Samu completa 20 anos no DF como referência para a população

Os profissionais do Samu DF de forma initerrupta, com cerca de 186 acionamentos diários — aproximadamente 7,5 por hora | Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF
Os profissionais do Samu DF de forma initerrupta, com cerca de 186 acionamentos diários — aproximadamente 7,5 por hora | Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF

Com agilidade e preparo, equipes atuam em mais de 68 mil ocorrências por ano

Salvar vidas. Há 20 anos, completados neste domingo (24), essa é a principal meta dos 513 servidores da Secretaria de Saúde (SES-DF) lotados no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Distrito Federal (Samu DF). O grupo de profissionais atua 24 horas por dia, com cerca de 186 acionamentos diários — aproximadamente 7,5 por hora —, o que representa mais de 68,6 mil ocorrências em um ano.

E essa é apenas uma parte do serviço. O telefone 192 não para. Dez atendentes, chamados pela sigla Tarm (de Técnico Auxiliar de Regulação Médica), estão na linha de frente do atendimento. Em um tempo médio de 97 segundos, eles identificam paciente, solicitante, endereço e característica principal da ocorrência.

Em seguida, a chamada vai para um dos seis médicos reguladores que, em cerca de 127 segundos, decidem que tipo de suporte será enviado: uma das 38 ambulâncias, uma das 11 duplas de motolâncias espalhadas por 22 bases no DF ou mesmo a equipe de suporte aeromédico, que voa em helicópteros do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Esse trabalho de comando e controle é realizado em uma sala localizada na Central de Regulação Médica de Urgências, sede do Samu DF, no SIA.

“O Samu hoje é visto como recurso essencial para a população, e o profissional aqui veste a camisa, é um profissional que tem uma missão, tem um grupo de valores”, afirma o diretor do Samu DF, Victor Arimatea. O sentimento de dever a ser cumprido se espalha pela equipe. “É difícil não vestir esse macacão com muito orgulho”, completa a médica Larissa Michetti, que já atuou tanto a bordo de helicópteros e ambulâncias quanto na regulação de casos. 

Gestante, a servidora da SES-DF está afastada das ruas, mas mantém o mesmo espírito ao receber ligações telefônicas. Às vezes, o atendimento se prolonga. “Há casos de parada cardiorrespiratória em que você fica no telefone até a equipe chegar”, conta. Em outras situações, ciente de onde está cada ambulância, ela permanece na linha enquanto o paciente é levado até um hospital próximo. “Orientar sobre como deve ser colocado o paciente em um carro e passar a informação para onde ele deve ser levado é uma conduta médica”, explica.

Apesar de nenhum dia ser igual ao outro, a experiência em jornadas de trabalho ajuda a criar alguns padrões de atendimento. “O perfil da noite de Natal é mais para pacientes cardiopatas, antes e durante a ceia, às vezes por conta de brigas de família. Já a noite do Réveillon é muito agitada, sobretudo depois da meia-noite”, exemplifica. Na rotina diária, perguntas específicas ajudam a traçar o perfil das ocorrências.

Uma das opções à disposição dos médicos reguladores é o atendimento em saúde mental. “Nós fazemos a escuta e ajudamos na solução do caso”, conta a psicóloga Marina Dias. Ela pode tanto conversar com pacientes ao telefone quanto orientar outra pessoa. “Uma vez, fui fazer uma palestra e, ao final, fui abordada por uma professora que eu havia orientado a como ajudar um estudante”, lembra.

O serviço funciona 24h e realiza atendimentos de urgência e emergência em qualquer lugar, como residências, locais de trabalho e vias públicas, mediante acionamento pelo telefone 192

Nem sempre, porém, as ligações trazem histórias positivas. Somente em 2024, o Samu DF recebeu 9.495 chamadas classificadas como engano, 27.972 pedidos de informação e 7.313 trotes. “A gente fica com raiva. Quando é trote, a pessoa já fala uma besteira ou fica só calada. Tem uma pessoa, que até já bloquearam o número, que ligava e ficava sussurrando”, revela o supervisor dos Tarm, Diego Sampaio.

O próprio sistema eletrônico já começou a barrar trotes automaticamente, com base em alguns perfis de ligação. No ano passado, foram 5.391 chamadas bloqueadas. Isso ajudou a reduzir o problema, já que em 2021 foram 68.002 ligações falsas. Essas ocorrências são tratadas como ameaças ao serviço, pois, além de atrapalhar os operadores, podem congestionar a linha e impedir o atendimento real.

Em casos mais extremos, ambulâncias chegaram a ser enviadas para ocorrências inexistentes. “Temos observado uma redução no número de trotes. Mas nosso objetivo não é ficar satisfeito com redução grande, é ter o trote zero”, afirma o diretor do Samu DF.

O Samu DF tem 38 ambulâncias e 11 duplas de motolâncias, espalhadas por 22 bases no Distrito Federal | Foto: Ualisson Noronha/Agência Saúde-DF

Velocidade de atendimento

Depois do sinal verde do médico regulador, as equipes correm contra o tempo. Apesar de vinculados a bases específicas, os veículos se deslocam por todo o Distrito Federal conforme as demandas. O médico Luiz Henrique Costa, por exemplo, que atua tanto como regulador na central quanto como integrante das equipes de atendimento, conta que em um único dia pode ser acionado para múltiplas ocorrências. “Nós somos da base do Riacho Fundo. Hoje, deixamos um paciente na Asa Sul e depois atendemos a uma situação de capotamento no Taquari”, relata.

O trabalho dos condutores também é marcante. Com cursos específicos para direção de veículos de emergência, eles têm técnicas para reduzir o tempo de deslocamento, incluindo ultrapassar semáforo vermelho, utilizar a contramão ou até passar sobre obstáculos. Quando necessário, também participam dos atendimentos, sendo capacitados, por exemplo, para realizar reanimação cardiopulmonar.

Investimentos

A importância do Samu DF tem se refletido em projetos de expansão. “Precisamos acompanhar o desenvolvimento das regiões administrativas e ter bases posicionadas no território de forma a reduzir o tempo de resposta”, explica Victor Arimatea. Nos últimos cinco anos, foram criadas novas bases no Plano Piloto (Asa Norte), em Taguatinga (QNJ), Águas Claras e Samambaia. Já há projeto para construção de outras cinco, em Sobradinho, Ceilândia, Guará, Riacho Fundo II e mais uma no Plano Piloto.

Somente em 2024, o Samu DF recebeu 9.495 chamadas classificadas como engano, 27.972 pedidos de informação e 7.313 trotes | Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF

Em paralelo, investimentos têm permitido a manutenção do número de ambulâncias equipadas. As 30 de suporte básico, que geralmente saem com pelo menos um condutor e dois técnicos de enfermagem, têm medicamentos e insumos para atendimentos iniciais. Já as sete avançadas, que incorporam um médico à equipe, contam com equipamentos para intubação, ventilação, infusão e outros procedimentos.

O serviço aeromédico é classificado como avançado. Há ainda uma ambulância específica para situações de saúde mental. Já as motolâncias, que tiveram a frota 100% renovada em 2023, são pilotadas por técnicos de enfermagem ou enfermeiros, levando na garupa medicamentos básicos. Em 2025, também houve investimento na troca dos computadores do Samu DF, utilizados tanto na central quanto nas bases.

Treinamento

As competências de atendimento in loco e de coordenação dos recursos são temas de cursos no Centro de Treinamento do Núcleo de Educação em Urgências do Samu DF. As capacitações replicam cenários realísticos e levam para novos servidores situações vivenciadas por colegas mais experientes.

Essa troca de experiências será intensificada entre 17 e 19 de setembro, quando ocorre o 1º Congresso Internacional do Samu DF. Criado para comemorar os 20 anos do serviço, o evento será no Museu da República e terá programação que inclui troca de vivências entre profissionais e apresentação de trabalhos científicos.

Outro destaque é o projeto Samuzinho, que leva capacitação em primeiros socorros para escolas públicas e privadas do Distrito Federal.

Depoimentos de quem faz o Samu DF

Foto: Matheus H. Souza/Agência Brasília

“Foi marcante o parto de um bebê prematuro em uma casa que nem luz tinha direito. O bebê nasceu com 29 semanas e estava quase parando. Consegui fazer a manobra de reanimação, fazer acesso, entubar e levamos para a UTIneo. Esse bebê ficou bem e conseguimos visitar ele” — Luiz Henrique Costa, médico

Foto: Matheus H. Souza/Agência Brasília

“Um paciente estava em frente a uma rodovia e estava com ambivalência, entre querer viver e querer morrer. A todo momento, ele fazia ameaças. Conseguimos abordá-lo, acalmá-lo e levá-lo até uma unidade de saúde. Quando chegamos, ele segurou na minha mão, olhou nos meus olhos e disse: você me salvou” — Marina Dias, psicóloga

Foto: Matheus H. Souza/Agência Brasília

“No aeromédico, tivemos que pousar em uma área restrita e a vítima era uma criança, um quase afogamento. Tivemos que atuar de forma imediata, tive que entubar, fazer todos os procedimentos necessários. Criança marca muito a gente. É uma gratificação muito grande quando chega depois a notícia do desfecho positivo” — Victor Arimatea, médico

Foto: Matheus H. Souza/Agência Brasília

“A ocorrência era uma parada cardiorrespiratória. Era um professor meu. É uma hora em que você tem que tentar tirar a parte emocional e ser profissional. Trabalhando na regulação, quando tinha uma ocorrência próximo da casa dos meus pais, eu ficava apreensiva. Um colega foi atender a um acidente e era a mãe dele. Quem trabalha com emergência tem esse risco” — Larissa Michetti, médica

Quando chamar o Samu?

O serviço funciona 24h e realiza atendimentos de urgência e emergência em qualquer lugar, como residências, locais de trabalho e vias públicas, mediante acionamento pelo telefone 192. Uma equipe é responsável por receber as chamadas e classificá-las conforme a necessidade e a urgência.

É indicado chamar o Samu em situações que exigem atuação especializada de profissionais de saúde, como problemas cardiorrespiratórios, intoxicações ou queimaduras graves, maus-tratos, trabalhos de parto com risco de morte da mãe ou do feto, tentativas de suicídio, crises hipertensivas, acidentes com vítimas, afogamentos, choques elétricos e acidentes com produtos perigosos. O Samu também deve ser acionado para transferências entre unidades hospitalares de pacientes com risco de morte.

*Com informações da Secretaria de Saúde (SES-DF)

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