A crescente repercussão nacional do escândalo de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) contrasta com o silêncio da maioria dos deputados distritais da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A postura de cautela não é casual — ela reflete uma rede de implicações políticas e institucionais que conecta Brasília ao epicentro das investigações conduzidas pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Segundo fontes da investigação, entre 15 e 20 parlamentares federais — entre deputados e senadores — estariam sendo investigados por envolvimento direto no esquema. O modelo de atuação, que se perpetuou entre 2019 e 2024, previa o repasse sistemático de valores mensais ilegais a esses parlamentares, em uma espécie de “mensalão previdenciário”. Em troca, os envolvidos ofereciam proteção política e influenciavam nomeações estratégicas dentro da autarquia, garantindo a longevidade da fraude.
Esse possível envolvimento direto de congressistas tem causado forte constrangimento institucional e receio político entre deputados distritais. Embora os parlamentares locais não tenham foro privilegiado federal, o avanço da investigação em níveis superiores, sob a alçada do Supremo Tribunal Federal (STF), torna qualquer manifestação pública uma movimentação de risco — especialmente em ano pré-eleitoral e num cenário de alianças instáveis entre os poderes locais e federais.
Outro fator que alimenta o silêncio institucional é a ausência de consenso no Congresso Nacional para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso. Sem o respaldo formal de uma investigação parlamentar robusta, e diante da resistência do presidente da Câmara dos Deputados em autorizar a criação da CPI, predomina o cálculo político. Muitos parlamentares preferem esperar que o processo avance na esfera judicial antes de tomar posição pública, evitando o risco de se indispor com lideranças influentes do centrão ou da base governista.
Ao mesmo tempo, entidades sindicais e associações de servidores públicos têm pedido celeridade e transparência nas apurações, mas com o cuidado de preservar a imagem institucional do INSS, um dos pilares da seguridade social brasileira. Esse apelo à prudência reforça a ideia de que manifestações públicas precipitadas podem politizar um processo que, no entendimento de muitos, deveria ser conduzido com o máximo rigor técnico e discrição jurídica.
O escândalo, que já figura entre os maiores da década no setor previdenciário, lança uma sombra sobre a atuação política em diversos níveis da federação — inclusive no Distrito Federal. O silêncio dos deputados distritais, portanto, não é apenas omissão, mas uma estratégia deliberada diante de um caso cuja gravidade ainda está em pleno desdobramento.
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✍️ Hamilton Silva
Jornalista, economista e editor-chefe do portal DFMobilidade.com.br