Na quinta-feira, 5 de junho de 2025, o bilionário Elon Musk postou em sua rede social X que o nome do ex-presidente Donald Trump constaria nos arquivos do financista Jeffrey Epstein, reacendendo uma antiga polêmica sobre a relação entre Trump e o já falecido criminoso sexual. A declaração pública, feita no contexto de uma série de críticas de Musk ao “big, beautiful bill” – projeto de lei histórico de reconciliação orçamentária defendido por Trump –, provocou reação de parlamentares do Partido Republicano (GOP), que saíram imediatamente em defesa do ex-presidente e classificaram a atitude de Musk como “exagerada” e “inapropriada” .
O post de Musk, publicado por volta das 15h (horário de Brasília), dizia textualmente:
“Time to drop the really big bomb. [Trump] is in the Epstein files. That is the real reason they have not been made public. Have a nice day, DJT! Mark this post for the future. The truth will come out.” . Com essa mensagem, o CEO da Tesla e da SpaceX insinuou que informações potencialmente comprometedoras sobre Trump estariam sendo mantidas em sigilo pelas autoridades, e que a divulgação desses arquivos traria explicações definitivas sobre a relação entre Trump e Jeffrey Epstein.
Imediatamente, o líder da minoria republicana na Câmara, Kevin McCarthy, pediu cautela e afirmou que “acusações desse tipo requerem provas, não suposições”. No entanto, diversos congressistas do partido foram além, classificando a postura de Musk como um desrespeito às instituições e aos processos democráticos.
O deputado Pat Fallon (R-TX) declarou: “Espero que nunca mais tenhamos que responder perguntas sobre tweets assim vindos de Elon”; segundo ele, “isso não é útil para ninguém, e certamente não ajuda a focar nas prioridades do país” . Já o deputado Chip Roy (R-TX) foi enfático ao afirmar: “Elon cruzou a linha hoje”, lamentando que um bilionário influente se envolva em acusações sem evidências claras.
Outros parlamentares se mostraram igualmente desconfortáveis com as acusações. O deputado Troy Nehls (R-TX) considerou que “não havia necessidade para isso” e sugeriu que o debate sobre possíveis conexões entre Trump e Epstein deveria ocorrer em “conversas reservadas, não em postagens de redes sociais” . Da mesma forma, o deputado Randy Fine (R-FL) destacou que, se houvesse de fato alguma informação nos arquivos de Epstein apontando para Trump, essa denúncia “teria surgido durante a campanha presidencial, quando todos os adversários buscavam qualquer indício de irregularidade” .
Em tom crítico, o deputado Tim Burchett (R-TN) questionou a coerência de Musk: “Se ele realmente acredita que Trump estava próximo de um pedófilo, por que permitiria que seu próprio filho, apelidado de ‘X’, fosse apresentado a Trump em eventos públicos?” . A deputada Anna Paulina Luna (R-FL), que lidera uma força-tarefa para desclassificar arquivos relacionados a investigações federais, incluindo os de Epstein, afirmou aos jornalistas que “se o nome de Trump estivesse efetivamente nos arquivos, isso já teria sido revelado durante as primárias”; para ela, a ausência de novas informações até agora demonstra que “essa acusação não se sustenta” .
Embora a maioria tenha rechaçado a sugestão de Musk, o deputado Ralph Norman (R-SC) se posicionou de modo distinto, defendendo maior transparência: “Os fatos se esclarecerão sozinhos. Os arquivos de Epstein certamente serão tornados públicos em algum momento, e o povo americano tem o direito de saber, assim como foi feito com os arquivos de John F. Kennedy e Bobby Kennedy” . Essa postura, porém, ganhou pouca adesão dentro da ala majoritária republicana.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, também comentou o episódio, atribuindo-o à insatisfação de Musk com o projeto de lei orçamentária de Trump, voltado a alívio fiscal para as classes média e trabalhadora. Em nota oficial, Leavitt afirmou: “Esse é um episódio infeliz de Elon, que se sente desamparado porque o One Big Beautiful Bill não inclui as políticas que ele desejava. O presidente está focado em aprovar essa legislação histórica e em tornar nosso país grande novamente” .
Para compreender o contexto dessa disputa, é importante recordar que Elon Musk e Donald Trump mantiveram, até o final de 2024, uma relação de proximidade. Durante a campanha presidencial de 2024, Musk foi um dos principais doadores a Trump, investindo mais de US$ 270 milhões em sua reeleição, e chegou a atuar informalmente como conselheiro em temas de tecnologia e inovação. No início de 2025, porém, a relação entre ambos começou a se deteriorar, em especial após Trump propagar tarifas elevadas que prejudicariam a Tesla e Musk acusar o governo de “traição às empresas de inovação” .
Já em relação à conexão entre Trump e Jeffrey Epstein, registros históricos indicam que Trump teria banido Epstein de seu clube de golfe em Palm Beach em 2007, após o financista assediar uma adolescente em uma das propriedades. Embora o nome de Trump já tenha aparecido em listas de contatos de Epstein e em registros de voo, não há evidências concretas de envolvimento em atividades criminosas. Relatórios do Departamento de Justiça de fevereiro de 2025 apresentaram parte dos arquivos — conhecidos como “Epstein files” — sem revelar novas informações sobre Trump. Musk, porém, alegou que haveria documentos adicionais mantidos em sigilo pelo FBI, postura esta sustentada por internautas que exigem a liberação completa dos registros .
No Senado, onde alguns parlamentares haviam se posicionado sobre o impasse, os senadores John Cornyn e Roger Marshall condenaram o excesso de Musk ao misturar assuntos privados e governamentais. “Ele não é o CEO deste país”, afirmou Marshall, ressaltando que um empresário, por mais influente que seja, não deve interferir em dinâmica política sem respaldo de fatos concretos . Cornyn, por sua vez, classificou a troca de acusações como “uma novela de mau gosto”, declarando que “é hora de focar nas prioridades legislativas e não em polêmicas de rede social”.
Enquanto isso, a discussão sobre a transparência dos arquivos de Epstein segue em pauta. A força-tarefa de Luna já protocolou pedido formal para que o Departamento de Justiça libere todas as informações possíveis, sob o argumento de que “a confidencialidade prejudica a confiança pública”. De outro lado, setores do próprio FBI preferem manter certas seções em sigilo, alegando riscos a investigações em curso e à privacidade de testemunhas envolvidas em casos contra traficantes sexuais.
Analistas políticos avaliam que o episódio ressalta a crescente tensão entre líderes empresariais de tecnologia e o establishment político tradicional nos Estados Unidos. A postura de Musk, que outrora era vista como “motor de inovação”, agora é alvo de críticas por parte de legisladores que consideram sua influência “desproporcional”. Para Trump, o episódio representa uma oportunidade de reforçar seu discurso de que elites da tecnologia não têm responsabilidade no “destino do povo americano”.
À medida que a eleição presidencial de 2028 se aproxima, a rivalidade entre magnatas do Vale do Silício e figuras políticas continuará sob escrutínio. Para os republicanos, o apoio inabalável a Trump demonstra coesão diante de ataques externos, enquanto para os democratas, a polêmica serve como lembrete do poder de indivíduos bilionários em moldar debates públicos.
Por: Hamilton Silva é jornalista e economista, editor-chefe do portal DFMobilidade, com mais de 13 anos de experiência na cobertura de política e mobilidade do Distrito Federal. Também é diretor da Associação Brasileira dos Portais de Notícias e membro ativo do Rotary Club de Brasília.
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