Rodrigo Rollemberg, ex-governador do Distrito Federal, será diplomado nesta terça-feira (17) como deputado federal. Um ato solene. Cerimonial. Puro teatro. Palmas protocolares para um personagem já bem conhecido do público — e não exatamente por boas razões.
Sim, Rollemberg está de volta à vida pública. Sai do ostracismo empoeirado de uma obscura secretaria nacional para o ostracismo refrigerado do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Mas e daí? O que Brasília ganha com isso? Absolutamente nada. “Tudo como dantes no quartel de Abrantes.”
Nada muda. Nenhuma alma — nem entre os pouco mais de 51 mil votos que ele teve — será capaz de jurar que votou nele com entusiasmo. Será? Afinal, a memória do eleitor brasileiro é curta, seletiva e, às vezes, conveniente. E então vem a Justiça Eleitoral, em um de seus contorcionismos técnicos, reconta os votos e reescreve a vontade popular com a caneta de ministros supremos. A decisão, claro, é “legal”. Mas quem, em sã consciência, teria coragem de chamá-la de legítima?
O passado que não passa
Rollemberg governou o DF entre 2015 e 2018. Um período que muitos brasilienses preferem esquecer. Faltou tudo — de diálogo a comando. Faltou coragem para decisões duras e sobrou prepotência para perseguir servidores, censurar outdoors e calar vozes críticas. Foi um governo de promessas vagas, discursos vazios e realidade crua. Até dança da chuva houve. Quem lembra?
Saiu reprovado nas urnas. Desapareceu do radar político. E agora retorna, não por vontade popular, mas por decisão judicial. Brasília não pediu por isso. Mas ganhou, como quem recebe de volta um produto com defeito.
O deputado que entrou pela porta dos fundos
A dança das cadeiras em Brasília virou coreografia de mau gosto. Sai Gilvan Máximo, entra Rollemberg. Não houve eleição, debate, disputa ou escolha. Houve retotalização. Palavrinha bonita que a Justiça inventou para fazer parecer técnica uma manobra profundamente política.
Enquanto isso, o Congresso segue em queda livre no quesito confiança. Deputado entra, deputado sai. E o povo? Esse só observa, cada vez mais descrente.
Alckmin e os “amigos iranianos”
No enredo torto da política brasiliense, um coadjuvante se destaca: Geraldo Alckmin. Vice-presidente de ofício, presidente interino por frequência — afinal, Lula vive mais nos ares que no Palácio do Planalto. Sobre Alckmin, pairam rumores sobre articulações comerciais mal explicadas com o Irã. Tudo no terreno do cochicho: não há fotos, muito menos provas. Mas a política, como se sabe, é movida a sussurros — e adora um escândalo embrulhado em silêncio.
Rollemberg, por sua vez, não perdeu tempo. Fez questão de carimbar sua ligação com o “senhor Miyagi do Planalto”, enquanto a imprensa militante do DF, sempre prestativa, tratou de amplificar a reverência com elogios quase litúrgicos ao socialista brasiliense. Tudo porque o ex-governador passou por um obscuro cargo de terceiro escalão na administração federal. Qual cargo? Não me lembro. Quais feitos? Muito menos. E, convenhamos, ninguém sentiu falta.
Enfim…
Enfim, o “de volta, mas sem saudades”
Rollemberg será diplomado hoje. Com diploma, gravata e até sorriso. Mas e daí? E daí nada! Nem merecia esse texto…
Não representa novidade, nem esperança, nem vontade do eleitor. Representa apenas o fracasso de um sistema que insiste em ignorar o eleitorado. Um retorno que não emociona, não inspira e não convence.
É a institucionalização do “tanto faz”.
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✍️ Hamilton Silva – Jornalista, economista e editor do portal DFMOBILIDADE.COM.BR