O setor brasileiro de suco de laranja projeta um prejuízo de R$ 4,3 bilhões (US$ 792 milhões) em razão da decisão dos Estados Unidos de elevar a 50 % a tarifa sobre as importações do produto, em vigor a partir de 1º de agosto de 2025 . A medida incide sobre um mercado que respondeu por 41,7 % das exportações brasileiras na safra 2024-2025, quando o país embarcou 307.673 toneladas, gerando receita de US$ 1,31 bilhão . Essa alíquota substitui a taxa adicional de 10 % anunciada em abril e se soma a outros encargos já vigentes, elevando o montante total de tributos do setor para até US$ 1,3 bilhão em mercados como União Europeia, Canadá e Japão .
A base legal para o “tarifaço” norte-americano remonta à Executive Order assinada em 2 de abril de 2025, na qual o presidente Donald J. Trump decretou estado de emergência comercial e instituiu política de “tarifa recíproca”, autorizando taxas adicionais de até 50 % para parceiros como o Brasil, a fim de “corrigir práticas comerciais não recíprocas e déficits persistentes” . O documento estabelece que, após um período inicial de 10 %, alíquotas específicas seriam aplicadas a países listados em anexos do texto executivo, entre os quais o Brasil figura com a tarifa máxima definida .
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a receita anual de US$ 2,51 bilhões (R$ 14,056 bilhões) na safra 2023-2024 sofrerá redução de 30,59 % em virtude desse encargo extra . A projeção leva em conta a acumulação da nova alíquota de 50 % com a sobretaxa de 10 % já implementada, resultando em um acréscimo de US$ 635 milhões por safra — aumento de 345,8 % sobre o cenário anterior, que arrecadou US$ 142,4 milhões em tarifas fixas de US$ 415 por tonelada .
No âmbito global, o setor brasileiro de suco de laranja pagava US$ 393,6 milhões em tributos em 2023-2024; com os ajustes tarifários, esse montante pode saltar para US$ 1,3 bilhão, considerando também as tarifas aplicadas por mercados como China, Reino Unido, Noruega e Suíça . Embora a Europa seja o maior destino, respondendo por mais de 42 % das exportações, a dependência do mercado americano — que importa 90 % do suco que consome — agrava a vulnerabilidade da indústria nacional .
No lado do consumidor dos EUA, analistas da Associated Press alertam para elevação nos preços de itens básicos do café da manhã, como suco de laranja e café, caso não haja acordo até 1º de agosto, o que pode pressionar ainda mais a inflação de alimentos nos Estados Unidos . Grandes redes de varejo e as multinacionais Coca-Cola e PepsiCo, que dominam o segmento, já sinalizam busca por fornecedores alternativos, o que pode reduzir a participação brasileira no mercado norte-americano.
Em resposta, o governo brasileiro mobilizou o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para intensificar negociações com mercados de destino alternativos. Cerca de 40 adidos agrícolas foram destacados para fortalecer diálogos com China, Coreia do Sul e Arábia Saudita, com o objetivo de compensar a queda de exportações para os EUA . Paralelamente, o Mapa coordena esforços com o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para mapear oportunidades na Ásia e no Oriente Médio, conforme apuração da CNN Brasil .
Outros setores sensíveis ao “tarifaço”, como café e carne bovina, enfrentam panorama semelhante e também pressionam por interlocução direta com o Office of the United States Trade Representative (USTR) em busca de exclusão ou redução das sobretaxas . Para especialistas, a diversificação de mercados e investimentos em certificações de qualidade, logística e inovação serão cruciais para mitigar o impacto e manter a competitividade internacional da agroindústria brasileira.
Conclui-se que, embora o Brasil disponha de robusta estrutura de produção e seja o maior fornecedor global de suco de laranja, a alteração abrupta na política tarifária dos EUA impõe desafio inédito de gestão comercial. A reação das autoridades nacionais e o sucesso das negociações diplomáticas definirão, nos próximos meses, a capacidade do setor de contornar perdas bilionárias e reinventar sua estratégia de exportação.
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