O capital não faz militância — faz as malas

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Em reação fulminante à escalada de atritos com os Estados Unidos e ao clima de incerteza política doméstica, investidores estrangeiros retiraram R$ 4,8 bilhões da Bolsa brasileira em apenas seis dias úteis. O movimento reverteu todo o otimismo acumulado em julho e expôs a vulnerabilidade do mercado a disputas geopolíticas e a mensagens que abalam a confiança institucional.

Segundo dados da B3, o Ibovespa recuou 1,57% nesta sexta-feira, encerrando o pregão aos 133.432,63 pontos, ante 135.564,73 pontos do fechamento anterior. O volume financeiro negociado também refletiu o êxodo: a retirada líquida de capitais não residentes atingiu R$ 4,8 bilhões entre os dias 11 e 18 de julho.

O gatilho para a debandada foi o anúncio, na última segunda-feira, de tarifas adicionais sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos. Analistas ouvidos pelo DFMobilidade apontam que a medida, longe de ser meramente técnica, reforça o receio de que o Brasil adote retórica protecionista e sancionatória em sua agenda externa. “O mercado busca estabilidade e previsibilidade. Quando o discurso oficial sugere confronto, o investidor estrangeiro entende que o risco de perda aumenta”, avalia Pedro Almeida, estrategista de renda variável.

Internamente, o ambiente político agrava o quadro. Declarações que questionam o papel de instituições independentes — em especial o Judiciário — têm feito crescer a percepção de insegurança jurídica. Para Fabio Campos, economista do Instituto de Estudos Econômicos Aplicados, “sem uma cláusula de confiança clara nas regras de jogo, o Brasil corre o risco de sofrer desvalorização prolongada do real e aumento nos custos de financiamento”.

A fuga de capitais traz impactos imediatos: pressão sobre a cotação da moeda e aumento da volatilidade nos juros de curto prazo. Em cenário de aperto fiscal e inflação ainda acima das metas, o Banco Central pode enfrentar maior dificuldade para calibrar a política monetária sem agravar a recessão.

Sobre o autor
Hamilton Silva é jornalista e economista, editor e fundador do portal DFMobilidade.

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