Montadoras alertam Lula sobre risco de desindustrialização e 50 mil demissões

Reprodução/Divulgação VW
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Em carta conjunta enviada em 29 de julho pelos presidentes da Volkswagen, Toyota, General Motors e Stellantis ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as montadoras criticam a proposta de redução de impostos para BYD e à importação de kits semimontados (SKD) para veículos híbridos e elétricos e alertam para o corte de R$ 60 bilhões em investimentos até 2030 e a perda de até 50 mil empregos diretos e indiretos caso a medida seja aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão da Camex nesta quarta-feira (30) .

Desde os anos 1950, a indústria automobilística brasileira se consolidou como um vetor de desenvolvimento, com 26 fabricantes de veículos e 508 produtores de autopeças responsáveis por 2,5 % do PIB, 20 % do PIB industrial de transformação, 1,3 milhão de empregos e um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões. O setor planeja investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 130 bilhões em veículos e R$ 50 bilhões em autopeças .

Na carta, as montadoras afirmam que “ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e, consequentemente, o valor agregado e o nível de geração de empregos” .

As empresas destacam ainda o efeito multiplicador do setor: para cada emprego perdido em linha de montagem, até dez vagas podem ser eliminadas entre fornecedores de autopeças e serviços, resultando em até 50 mil postos de trabalho fechados . Alguns sinais de retração já se manifestaram, com o fechamento de 600 vagas em junho, e o volume de importações — 228,5 mil veículos no primeiro semestre, equivalente à produção anual de uma fábrica de grande porte — reforça o alerta da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) .

O pedido de redução de tarifas partiu da chinesa BYD, que investe R$ 5,5 bilhões em fábrica em Camaçari (BA) e pleiteia a queda de 20 % para 10 % no Imposto de Importação de kits híbridos e de 18 % para 5 % nos elétricos. A decisão ocorre em meio à entrada em vigor, em 1º de agosto, de novas tarifas de 50 % impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, num cenário de maior aproximação comercial entre Brasil e China .

Até o momento, o governo federal não se manifestou sobre a carta, e a decisão do Camex deve ser anunciada nos próximos dias . No setor, cresce o apelo por previsibilidade e isonomia nas regras do jogo, sob o risco de retroceder mais de 70 anos de avanços industriais.


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Sobre o autor
Hamilton Silva é jornalista e economista, editor-chefe do portal DFMobilidade e diretor da Associação Brasileira dos Portais de Notícias.

 

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