Em meio ao embargo global imposto pela União Europeia aos derivados de petróleo russos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva elevou em 6.000% o volume de diesel importado da Rússia, saltando de 101 mil toneladas em 2022 para 6,1 milhões de toneladas em 2023, segundo dados da ONU/Comtrade . Em 2024, conforme levantamento da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a Rússia respondeu por 65,5% dos 14,5 milhões de m³ de óleo diesel importados pelo Brasil, totalizando 9,5 milhões de m³ .
Desde o início de 2023, a participação de origem russa cresceu de forma contínua, fazendo da Rússia o principal fornecedor de diesel ao país. Conforme boletim trimestral da ANP, as importações líquidas de diesel de origem russa atingiram 98% do volume total em maio de 2024, segundo dados do sistema ComexStat do MDIC . Esse movimento reverteu a histórica primazia dos Estados Unidos, que passaram de 57% de participação em 2022 para apenas 17% em 2024.
Enquanto isso, no primeiro semestre de 2025, o Brasil importou cerca de 9,9 milhões de m³ de diesel, dos quais 53% vieram da Rússia e 19,5% dos Estados Unidos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços . A Argus Media destaca que o diesel russo manteve preços 10% a 15% inferiores aos dos EUA, incentivando importadores brasileiros a aproveitar descontos que, no auge, chegaram a US$ 0,15 por galão e hoje se situam em torno de US$ 0,03 .
A crescente dependência de diesel russo expôs o Brasil ao risco de sanções secundárias dos Estados Unidos. Autoridades de Washington já advertiram que países que mantêm importações de combustíveis russos poderão sofrer tarifas de até 100% sobre produtos norte-americanos, como forma de pressionar Moscou pelo fim da guerra na Ucrânia . O presidente da Abicom, Sérgio Araújo, reconhece que, embora os descontos tenham diminuído, continuam impulsionando as compras: “O mercado brasileiro não consegue substituir facilmente esse volume, dado o descompasso entre preços e oferta” .
Em nota oficial de 15 de julho de 2025, o Itamaraty afirmou que “o Brasil vem negociando com autoridades norte-americanas, desde março, questões relativas a tarifas, e está disposto a dar sequência a esse diálogo em benefício mútuo”, ao mesmo tempo em que rechaça “intromissões indevidas” em assuntos de soberania nacional . Não há, porém, sinal de mudança na política de importação de combustíveis, o que mantém em suspenso a possibilidade de retaliações comerciais.
Especialistas advertem que, em caso de aplicação de sanções, o país poderá enfrentar aumento de preços nos postos, pressionando ainda mais a inflação e a cadeia logística do agronegócio. A Petrobras e importadores privados, embora sujeitos a regras de compliance, ainda dependem da competitividade do diesel russo para suprir parte da demanda interna, sobretudo no transporte rodoviário.
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