Cotado para assumir um ministério no Palácio do Planalto, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) carrega uma trajetória política marcada pela militância radical, pelo confronto com governos e pela defesa de pautas que dividem o país. Agora, o líder que ganhou projeção organizando ocupações de imóveis urbanos tenta migrar do discurso inflamado das ruas para o comando de uma estrutura oficial do governo federal.
Boulos nasceu em São Paulo, em 1982, e se consolidou como liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Suas ações — muitas vezes amparadas em métodos de pressão extrema, ocupações e enfrentamento direto ao Estado — o transformaram em ícone de grupos de esquerda e, ao mesmo tempo, em símbolo de insegurança institucional para setores produtivos, proprietários e parte expressiva da classe média. Sua trajetória sempre esteve associada ao ativismo de rua, e não à capacidade administrativa ou à gestão pública.
Em 2018, disputou a Presidência da República pelo PSOL e teve desempenho modesto. Em 2020, tentou a Prefeitura de São Paulo e foi derrotado no segundo turno por Bruno Covas. Em 2022, elegeu-se deputado federal com forte apoio de militantes e movimentos organizados, consolidando-se como representante de uma esquerda ideológica que defende mais Estado, mais controle social e maior intervenção nas relações urbanas e econômicas.
No Congresso, adotou postura combativa, com discursos duros contra o setor produtivo, o mercado e o modelo de desenvolvimento que critica como “excludente”. Internamente, aliados de Lula avaliam que sua eventual nomeação seria uma tentativa do governo de acenar à militância mais radical, em um momento de queda de popularidade e fragilidade política em temas econômicos e sociais.
Críticos apontam que a movimentação do Planalto fortalece a ala mais ideológica da base e cria tensão com o Centrão e com setores moderados. Também levantam dúvidas sobre o que Boulos entregará na prática: um projeto de país ou apenas o mesmo método de pressão que o consagrou nas ruas. O desafio, caso seja confirmado ministro, será provar capacidade administrativa — e não apenas retórica.
A possível nomeação simboliza uma mudança significativa: o ativista que sempre pressionou os governos pode agora fazer parte de um deles. Resta saber se vai governar, ou apenas continuar lutando contra o sistema de dentro do próprio sistema.
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