Investimento ou propaganda? Os números do Novo PAC no DF não fecham — e Brasília não é “ilha da fantasia”
A visita – rodeada de bajuladores – do ministro Rui Costa à CLDF veio embalada por manchetes festivas: “R$ 6,4 bilhões” do Novo PAC no DF, 98 empreendimentos, BRTs por todos os lados e expansão do metrô. No papel, parece a redenção. Na prática, é uma conta com asterisco — e um discurso conveniente de quem já classificou Brasília como “ilha da fantasia” e “um erro que fez mal ao Brasil”.
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Comecemos pelo dado principal. O próprio material divulgado na CLDF aponta que, até abril de 2025, foram executados R$ 2,3 bilhões (quase o valor roubado dos velhinhos do INSS). O restante — R$ 4,3 bilhões — “deve” ser concluído até 2026, com mais cerca de R$ 2 bilhões em obras que estouram o próximo ano. Ou seja: o GROSSO ainda depende de cronograma, licitações, entregas e, claro, de vontade política. É promessa em cima de obras em andamento, não dinheiro novo caindo hoje no caixa do DF.
A vitrine de empreendimentos repete velhos conhecidos: BRT Eixo Sul, BRT Norte, BRT Sudoeste, Corredor Oeste, expansão do metrô de Samambaia e duplicação da BR-080. São intervenções necessárias — e em boa parte tocadas pelo GDF quando o repasse sai —, mas que ciclicamente viram anúncio federal em ano pré-eleitoral, como se cada etapa fosse um “lançamento” diferente. O texto oficial, inclusive, admite que os recursos são repassados ao GDF para execução, reforçando que a entrega depende da capacidade local de obra, não de coletiva em Brasília com claque selecionada.
Há também o número mágico repetido pelo ministro: “o DF recebe 4,5 vezes mais recursos que a média das demais unidades” – Talvez seja por isso que o ministro ache que Brasília seja uma “ilha da fantasia” e não mereça o tão famigerado Fundo Constitucional. Impacta, mas carece de contexto. Mistura Fundo Constitucional (que é despesa obrigatória prevista na Constituição para bancar segurança, saúde e educação locais) com investimentos discricionários e operações de crédito. Ao nivelar tudo como “favor federal”, o discurso distorce o desenho institucional do DF e tenta transformar obrigação constitucional em benesse política.
Não custa lembrar: quando interessa, o governo federal “abraça” Brasília para a foto; quando aperta o debate fiscal, aparecem as críticas ao FCDF e as teses de “normalizar” o que é cláusula constitucional — narrativa já ensaiada por expoentes do Planalto. A mesma Casa Civil que hoje vende o DF como beneficiário exemplar abriga o ministro que, em 2023, disse que a capital “fez mal ao Brasil” e deveria ter ficado no Rio, São Paulo, Minas ou Bahia. O pedido posterior de desculpas não apaga o viés: o problema nunca foi Brasília; foi a conveniência política de quem oscila entre atacar e faturar em cima da cidade.
E o que fica para o cidadão? Dos R$ 6,4 bilhões ventilados, quanto virou contrato assinado, obra licitada e entrega com prazo e responsável? Quantas unidades de habitação popular, quantos quilômetros de BRT e de trilho terão operação efetiva e quando? O release divulgado diz “98 empreendimentos” e “14.382 moradias”, mas sem cronograma consolidado e metas auditáveis isso é inventário de PowerPoint.
Na segunda-feira (29) deputado do PSOL gravou vídeo desconstruindo a gestão da Companhia do Metropolintano do DF (Metrô-DF) e não considerou (esqueçeu) que o processo de sucateamento e desindustrialização vem desde o segundo mandato do governo Lula.
Ponto para o GDF quando age tecnicamente: o governo local cadastrou 121 projetos na plataforma federal do Novo PAC, dos quais 19 foram selecionados — métrica objetiva que ajuda a tirar o tema do palanque e traz o debate para a gestão. Aqui, Brasília precisa de previsibilidade orçamentária, trâmites federais que não emperrem e respeito às suas especificidades — não de carimbos marqueteiros.
Em resumo: o evento na CLDF é mais um capítulo do “anunciar agora, entregar depois”. Enquanto a Casa Civil celebra percentuais e projeções, a população quer certidões de execução, prazos públicos e responsabilidade compartilhada. Brasília não é “ilha da fantasia”; fantasia é confundir promessa com investimento realizado. Lembrando que os repasses além de ser obrigado por LEI ESSES POLITICOS NÃO ESTÃO FAZENDO FAVOR AOS BRASILIENSES. NÃO MAIS QUE SUAS OBRIGAÇÕES!
Por: Hamilton Silva – Jornalista e editor-chefe do DFMOBILIDADE
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