O que está em jogo na compra do Banco Master e por que o DF pode ganhar
A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) tem em mãos a lei autorizativa para permitir que o Banco de Brasília (BRB) adquira 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Banco Master — 58% do capital total — em operação estimada em cerca de R$ 2 bilhões. O projeto foi encaminhado à CLDF em 14 de agosto e, se aprovado, destrava a próxima etapa do negócio.
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A operação já recebeu sinal verde concorrencial: em 17 de junho, a Superintendência-Geral do Cade aprovou a transação sem restrições. Falta o aval final do Banco Central (BC), responsável pela análise prudencial.
Há também um condicionante jurídico local: decisão do TJDFT impede a assinatura do contrato definitivo antes do aval da CLDF e da assembleia de acionistas do BRB, embora permita atos preparatórios. Em outras palavras, a bola está no campo da Câmara.
O que o BRB está comprando (e o que está deixando de fora)
Segundo o próprio BRB, o desenho do negócio prioriza ativos “saudáveis” e aderentes à estratégia do banco — como carteira empresarial, consignado/cartão consignado e câmbio — com pagamento parcelado em até seis anos, enquanto uma parcela relevante de ativos do Master fica excluída do perímetro da aquisição. O objetivo é reduzir risco e preservar capital.
Capitalização do Master e cronograma regulatório
Para viabilizar a operação dentro de parâmetros prudenciais, o BC autorizou dois aumentos de capital no Master em 2025, totalizando R$ 2 bilhões — o mais recente, em 4 de agosto, elevou o capital para R$ 4,763 bilhões. A análise do BC sobre a aquisição segue em curso.
Potencial de escala e impacto para o DF
Com a incorporação, projeções amplamente divulgadas pelo mercado apontam que o BRB poderá alcançar cerca de 15 milhões de clientes, R$ 112 bilhões em ativos, R$ 72 bilhões em carteira de crédito e mais de R$ 100 bilhões em captações — um salto de escala que reposiciona o banco no cenário nacional. Para o acionista controlador (o GDF), o próprio BRB estimou até R$ 2 bilhões em dividendos em cinco anos, caso a operação avance.
Por que a CLDF é decisiva agora
• Segurança jurídica: a autorização legislativa atende ao requisito fixado pela Justiça e dá lastro político a uma operação estrutural.
• Concorrência já avalizada: com o Cade resolvido, a aprovação local acelera o “timing” do processo no BC.
• Benefício fiscal potencial: dividendos maiores reforçam o caixa do DF e podem irrigar políticas públicas, se os resultados prometidos se confirmarem.
Não é cheque em branco. O prudencial do BC pode impor condicionantes; além disso, ativos de maior risco ficaram fora do escopo, justamente para blindar o BRB. A governança da integração e a qualidade da carteira adquirida precisarão de acompanhamento rigoroso — pelo controlador (GDF), pela CLDF e pelos reguladores.
A CLDF tem a oportunidade de autorizar uma aquisição que, com Cade aprovado e reforço de capital no Master, pode ampliar escala e resultados do BRB — desde que o desenho final mantenha o apetite de risco sob controle e passe pelo crivo do BC. A decisão legislativa, portanto, é o passo que faltava para tirar o projeto do impasse judicial e avançar no calendário regulatório.
Hamilton Silva é jornalista há 13 anos, editor-chefe do portal DFMobilidade e economista formado pela Universidade Católica de Brasília. Vice-presidente do Rotary Club de Brasília e diretor da Associação Brasileira dos Portais de Notícias (ABBP), cobre política e mobilidade no DF.