Grupo de contas automatizadas concentrou 31% das publicações pró-governo em apenas 0,6% de usuários
Uma análise conduzida pela plataforma Brandwatch e divulgada em 15 de julho pelo jornal O Globo aponta indícios de uso coordenado de contas automatizadas na mobilização de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais, imediatamente após o anúncio de aumento de 50% das tarifas pelo governo norte-americano de Donald Trump sobre produtos brasileiros .
O monitoramento, realizado entre 9 de julho (às 17h) e 14 de julho (às 10h) na plataforma X, identificou que aproximadamente 1.000 perfis analisados geraram 500 mil postagens relacionadas ao mote “Bolsonaro taxou o Brasil”, o que representa 31% do total das 1,6 milhão de publicações feitas por 149 mil contas únicas no período .
Segundo o mesmo levantamento, a disseminação foi impulsionada por uma orientação enviada às 11h09 de 11 de julho em um canal de WhatsApp que reúne apoiadores do “Clube de Influência”, iniciativa lançada há duas semanas pelo PT. A mensagem recomendava o uso de hashtags como “#BolsonaroTaxouOBrasil”, “#DefendaOBrasil” e “#EstamosComLula”, que alcançaram o topo dos trending topics do X em menos de uma hora .
Perfis como @GilsonAraj90635, com apenas 171 seguidores, chegaram a publicar 20 mensagens por minuto, e @OveinhoT78336, com 1.270 seguidores, atingiu picos de 27 postagens por minuto. Esse padrão de “rajadas curtas” seguido de longos períodos de inatividade é característico de operações automatizadas ou campanhas digitais estruturadas .
Para especialistas, a ação demonstra uma estratégia de militância digital remunerada. O professor Marco Aurélio Ruediger, da FGV Comunicação Rio, observa que “a resposta tem sido mais estruturada no sentido de contrabalancear narrativas oposicionistas”, enquanto a pesquisadora Letícia Capone, do Instituto Democracia em Xeque, ressalta que “essa mobilização coordenada pode criar a percepção de maior alinhamento e força política, influenciando a opinião pública” .
A prática viola diretamente as Regras de Automação do X, que proíbem o uso de múltiplas contas e da API para inflar artificialmente a proeminência de discussões cruciais, conforme diretrizes publicadas em seu blog corporativo em 21 de fevereiro de 2018 .
O episódio levanta questões sobre transparência no debate público e sobre até que ponto a atuação de agentes – estatais ou privados – pode distorcer o ambiente digital, comprometendo a autenticidade das reações políticas nas redes sociais.
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