Hugo Motta nega perseguição política no Brasil: realidade ou discurso conveniente?
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), surpreendeu ao afirmar que, nos últimos 40 anos, o Brasil não teve casos de perseguição política, exilados ou presos políticos. Durante um evento parlamentar, Motta minimizou qualquer narrativa sobre censura ou restrição de liberdades no país.
“Não tivemos jornais censurados, nem vozes caladas à força, não tivemos perseguições políticas, nem presos, nem exilados políticos”, declarou o deputado, reforçando sua visão de que a democracia brasileira se manteve íntegra nas últimas quatro décadas.
A fala de Motta, no entanto, contraria diversos relatos de opositores políticos, jornalistas e ativistas que apontam episódios recentes de cerceamento de liberdades. Casos emblemáticos, como a prisão de manifestantes após o 8 de janeiro de 2023 e bloqueios judiciais contra influenciadores e veículos de comunicação, levantam dúvidas sobre a assertividade de sua afirmação.
A realidade dos fatos
Se por um lado a Constituição de 1988 garantiu uma redemocratização formal, por outro, decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) evidenciam um ambiente de forte controle sobre a liberdade de expressão, com bloqueios de perfis em redes sociais e a remoção de conteúdos críticos ao Judiciário e ao governo.
Além disso, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados alegam ser vítimas de perseguição, citando processos que os impedem de disputar eleições e sanções judiciais que afetam sua atuação pública. Políticos como Daniel Silveira, que foi preso e posteriormente perdoado, e figuras de direita que deixaram o país sob alegações de perseguição, reforçam a visão de que a democracia brasileira tem sido seletiva na aplicação da lei.
Narrativa conveniente?
A fala de Hugo Motta parece seguir uma linha institucionalista, negando qualquer sombra de autoritarismo no Brasil. No entanto, ela ignora o cerceamento de jornalistas, a retirada de perfis das redes sociais por ordem judicial sem ampla defesa, e a existência de figuras políticas que deixaram o país para evitar represálias.
Dizer que não há perseguição política no Brasil pode ser uma tentativa de manter a estabilidade institucional, mas a realidade, para muitos, parece ser outra.