De acordo com matéria do jornal Estadão, a Itaipu Binacional destinou R$ 15 milhões para patrocinar o festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que ocorre no Rio de Janeiro entre os dias 14 e 16 de novembro, em paralelo à Cúpula do G-20 Social. O evento, que contará com shows de artistas como Alceu Valença, Zeca Pagodinho e Ney Matogrosso, tornou-se alvo de críticas e questionamentos, tanto pelo alto valor investido por uma estatal quanto pela proximidade com a primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, que participou da organização. A festividade ganhou o apelido de “Janjapalooza” nas redes sociais, suscitando um debate sobre o uso de verbas públicas.
Além da Itaipu, outras empresas estatais, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras, foram questionadas pelo Estadão sobre seus aportes financeiros no evento, mas não divulgaram os valores investidos. O BNDES limitou-se a confirmar a participação, sem fornecer detalhes sobre o montante aplicado, enquanto o Ministério da Cultura declarou que os números serão divulgados posteriormente, acentuando a percepção de falta de transparência. Críticos apontam que, dada a origem pública dos recursos, os gastos deveriam ser claramente informados à sociedade.
A decisão de Itaipu de patrocinar o festival se justifica, segundo a estatal, por sua “importância estratégica” para o debate de temas globais como fome, pobreza e crise climática. Em nota, a empresa afirmou que o evento contribui para a projeção internacional do Brasil em pautas essenciais. No entanto, analistas destacam que esse investimento ocorre em meio a um contexto de austeridade econômica e que o elevado valor desperta questionamentos sobre a real necessidade de utilizar recursos públicos em eventos dessa natureza.
O vínculo entre Janja e a Itaipu também é um dos pontos de polêmica. A primeira-dama trabalhou na estatal entre 2005 e 2020 e tem, portanto, uma relação de longa data com a empresa. A proximidade gera dúvidas sobre um possível favorecimento, especialmente considerando que Janja teve papel de destaque na organização do festival. Para alguns críticos, o patrocínio pode ser interpretado como um apoio indireto do governo ao fortalecimento da imagem pública da primeira-dama.
O evento, que ocorrerá na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, contará com entrada gratuita e foi organizado para coincidir com o G-20 Social, ampliando sua visibilidade e atraindo atenção de líderes e representantes da sociedade civil. No entanto, a execução simultânea ao G-20 também levanta questões sobre a intenção política do festival, que, para muitos, parece buscar projeção mais para fins governamentais do que para objetivos puramente sociais.
Além das estatais, o evento conta com parcerias internacionais, incluindo a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e apoio de órgãos municipais, como a prefeitura do Rio de Janeiro. Os artistas contratados para as apresentações receberão cachês simbólicos de R$ 30 mil, valor que, embora modesto para nomes de peso, contribui para o debate sobre o uso de recursos públicos em eventos culturais.
Itaipu argumentou que o patrocínio reafirma seu compromisso com práticas de sustentabilidade e responsabilidade social, alinhadas aos princípios de ESG (ambiental, social e governança). No entanto, a ausência de clareza sobre o orçamento completo e a participação de outras estatais gera pressões para que o governo e os patrocinadores divulguem informações detalhadas sobre os investimentos.
A falta de transparência e o elevado valor do patrocínio em um evento amplamente divulgado como parte da agenda pessoal de Janja suscitam críticas sobre o real propósito do festival. Para alguns observadores, o patrocínio parece mais uma estratégia de marketing político do que uma contribuição efetiva para o desenvolvimento social e a sustentabilidade, especialmente em um momento em que o Brasil enfrenta graves desafios econômicos e debates sobre cortes de gastos.