A volta de Donald Trump ao cargo mais alto dos Estados Unidos promete trazer desdobramentos que reverberam até o Brasil, com implicações diretas nas áreas de imigração, economia e meio ambiente. A trajetória que conecta o fim do primeiro mandato de Trump, em 2021, ao início do terceiro mandato de Lula no Brasil, em 2023, oferece um contexto em que as relações bilaterais se mostram desafiadoras e cheias de nuances.
Desde sua primeira gestão, Trump já se destacava por posturas rígidas em relação à imigração. Agora, em seu retorno ao poder, o republicano reiterou que uma das prioridades será implementar a maior deportação em massa da história dos EUA, com um número impressionante de até 11 milhões de pessoas. Para o Brasil, isso significa um impacto direto na vida de cerca de 200 mil brasileiros, que poderão enfrentar o retorno forçado, desestruturando famílias e influenciando a economia local com o aumento de remessas vindas dos EUA.
No entanto, Trump anunciou que deseja facilitar a obtenção da residência permanente para estrangeiros com formação em universidades americanas. A medida, caso concretizada, pode beneficiar os mais de 16 mil brasileiros atualmente matriculados em instituições de ensino superior nos EUA, representando uma janela de oportunidade para jovens brasileiros que sonham com uma carreira no exterior.
No plano econômico, a política protecionista de Trump é outra questão que poderá afetar o Brasil. Sua proposta de impor uma tarifa de 10% sobre produtos importados gerou apreensão em mercados globais, incluindo o brasileiro. Exportadores de commodities e manufaturas devem observar de perto o impacto nas exportações brasileiras, especialmente porque a tarifa seria ainda mais severa para a China, com alíquotas de até 60%. No entanto, essa medida pode abrir espaço para o Brasil, que poderia suprir a demanda de itens estratégicos, principalmente para indústrias de alta tecnologia.
A questão ambiental é outro ponto de conflito. Trump prometeu retirar novamente os EUA do Acordo de Paris, posicionando-se a favor da intensificação no uso de combustíveis fósseis e apoiando novos projetos de extração. Essa mudança deverá baratear o preço do barril de petróleo no mercado global, o que pode refletir em uma queda nos preços da gasolina no Brasil — um alívio momentâneo, mas que põe em xeque compromissos climáticos globais.
O terceiro mandato de Lula trouxe consigo uma política mais aberta ao diálogo e uma reaproximação com atores internacionais, buscando equilibrar temas de soberania e meio ambiente, além de se posicionar em discussões de ordem global. Com o retorno de Trump, porém, esse equilíbrio pode se tornar mais complicado, especialmente em um contexto onde os EUA adotam políticas cada vez mais nacionalistas e isolacionistas.
A nova era de Trump deve trazer desafios complexos para o Brasil, exigindo respostas articuladas e uma postura diplomática que permita explorar oportunidades comerciais, sem perder de vista os interesses nacionais e compromissos internacionais, sobretudo em relação ao clima.