Em plena abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, montou uma agenda de alto nível que deixa Luiz Inácio Lula da Silva fora do círculo imediato de consultas. Segundo cronograma divulgado pela Casa Branca, Trump terá bilaterais com o secretário-geral António Guterres, com os líderes da Ucrânia e da Argentina e com a União Europeia, além de uma cúpula multilateral com chefes de Estado e governo de Qatar, Arábia Saudita, Indonésia, Turquia, Paquistão, Egito, Emirados Árabes Unidos e Jordânia. O Brasil não está na lista.
O gesto é eloquente. Em semana decisiva para destravar arestas, Brasília não terá — ao menos por ora — a foto, a mesa nem o microfone na sala onde o presidente americano pretende calibrar alianças e prioridades. Em diplomacia, convite é mensagem; ausência, também.
A exclusão ocorre em meio a um desgaste crescente entre os dois governos. A escalada passa por tarifas americanas sobre produtos brasileiros e por episódios de restrição de vistos que atingiram integrantes do alto escalão. Na prática, a janela para algum “reset” político na ONU ficou estreita. Sem bilateral marcada, o Planalto terá de se contentar com encontros multilaterais temáticos e conversas de corredor — quando houver clima.
Lula, por sua vez, aposta em vitrines paralelas: participa de conferências sobre a questão palestina e da segunda edição do encontro “Em Defesa da Democrocracia”, organizado com parceiros europeus e latino-americanos. Em ambos os casos, as agendas acentuam distâncias com Washington, que sequer integra a lista de convidados do evento sobre democracia. É a geopolítica em modo “cada um com seus pares”, sem espaço para meia-palavra.
O saldo político é direto: ao preterir o Brasil na sua rodada de alto nível, Trump envia o recado de que questões comerciais, segurança no Oriente Médio e costuras com aliados preferenciais falam mais alto que a conflituosa pauta bilateral com Brasília. Para o governo Lula, que pretendia usar a ONU para oxigenar a relação com Washington, restam duas alternativas: ou rebaixa a expectativa e joga para a plateia doméstica, ou muda a tática e busca pontes por vias técnicas — comércio, clima e investimentos — enquanto a temperatura política não baixa.
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