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Telegram ferramenta da Rússia, oferece risco ao Ocidente?

Foto: Reprodução
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Prisão de Durov vira incidente diplomático entre França e Rússia, além de problema para Putin. Foto: Alexander Kazakov/Russian Presidential Press and Information Office/TASS

O criador do aplicativo de mensagens Telegram, Pavel Durov, está preso desde sábado (24), na França. Segundo as autoridades locais, ele é alvo de uma investigação aberta por não ter cooperado em apurações sobre a falta de moderação de conteúdos na plataforma. O inquérito francês, ao menos oficialmente, se assemelha às críticas já feitas ao aplicativo por autoridades no Brasil.

O que não é dito oficialmente, mas compõe o contexto geopolítico atual, é que os serviços de inteligência dos Estados Unidos e de países europeus consideram o Telegram um instrumento indireto do regime de Vladimir Putin. Tanto as agências quanto as principais forças de segurança do Ocidente têm convicção de que o regime russo tem acesso direto aos dados e metadados das informações que circulam na plataforma – seja por meio de canais, seja em trocas de mensagens.

Mesmo as mensagens criptografadas – que são minoria na montanha de dados dos servidores do Telegram – contêm “backdoors”, uma espécie de porta escondida, para os russos, segundo avaliação consensual das agências de inteligência ocidentais. As informações extraídas do Telegram são compartilhadas com os serviços de inteligência do Irã e da China, de acordo com as mesmas análises técnicas e sigilosas acerca da plataforma.

Para o Ocidente, portanto, o Telegram não é apenas um problema do ponto de vista criminal. É um problema estratégico e geopolítico.

Durov foi detido ao desembarcar de um avião particular, no aeroporto de Le Bourget. Ele tem sido apontado pela polícia francesa como cúmplice em casos de tráfico de drogas, fraude e pedofilia. Não que ele tenha cometido algum desses crimes diretamente, mas as autoridades afirmam que o aplicativo deixou de dar informações sobre investigações relacionadas a esses casos, além de não bloquear canais com tais conteúdos.

O Telegram nasceu na Rússia, país de origem de Durov, com o objetivo de se tornar uma fonte segura para a troca de informações. Foi um dos primeiros aplicativos de mensagens gratuitos a oferecer criptografia – opcional – de ponta a ponta, um tipo de de tecnologia que protege de interceptação o teor das conversas dos usuários. A qualidade da criptografia do Telegram é duramente criticada na comunidade da área.

A inspiração para o Telegram surgiu depois que Durov se recusou a fornecer ao governo russo informações de outra plataforma que comandava – e posteriormente vendeu. Em 2014, ao criar o novo programa, deixou o país e passou a viver no Oriente Médio, passando por locais como Emirados Árabes Unidos, Azerbaijão e outros.

Durov também já perseguido pelo governo da Rússia. Embora o aplicativo tenha ficado proibido no país por dois anos, ele se tornou uma das principais plataformas de trocas de mensagens na região, sobretudo depois da invasão russa à Ucrânia. Tanto o exército russo quanto os civis ucranianos usam a plataforma para se comunicar. O exército ucraniano, evidentemente, proíbe o uso dela.

Segundo o canal de notícias Euro News, para se manter ativo na Rússia, o Telegram concordou em fornecer dados dos canais com mais de 500 mil membros ao Roskomnadzor, o órgão do governo Putin encarregado de fiscalizar os canais de mídia no país. Por esse motivo, a prisão de Durov acabou se tornando um incidente diplomático.

Durov nega há anos que tenha feito qualquer acordo com Putin. Nenhuma potência leva a sério a negativa.

A Embaixada da Rússia na França destacou um grupo para acompanhar a situação de Durov. Ocorre que o fundador do Telegram também possui passaporte francês. Por isso, para as autoridades locais, ele é considerado cidadão do país, o que dificulta as tratativas diplomáticas em torno da prisão.

As autoridades francesas, incluindo o presidente Emmanuel Macron, negam que a prisão de Durov tenha qualquer vinculação política, relacionada à guerra na Ucrânia. Contudo, a preocupação da Rússia com um cidadão outrora considerado inimigo nacional, mostra que Durov pode ter mais a dizer aos franceses do que o Kremlin gostaria.

Brasil tem histórico de problemas

As mesmas críticas que o governo francês encampa contra Durov, de não conseguir apoio da plataforma para combater crimes digitais, já levaram ao bloqueio do Telegram no Brasil. Em 2022, antes do período eleitoral, o aplicativo foi bloqueado por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

O magistrado alegou que o aplicativo vinha se recusando a obedecer ordens judiciais de forma deliberada. Depois da repercussão, o próprio Durov pediu desculpas e tratou de montar uma pequena operação no Brasil, para responder a demandas judiciais.

Isso não impediu, no entanto, que a rede social continuasse a ser amplamente usada por grupos extremistas para promover discurso de ódio. Ao contrário, a plataforma continuou como um dos principais canais de comunicação de grupos golpistas, cujas ações culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Em maio de 2023, uma nova polêmica: o Telegram divulgou uma mensagem aos usuários, colocando-se contra o projeto de lei para combater as fake news. A empresa acabou virando alvo de uma investigação aberta pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e de uma ordem judicial para a remoção do texto.

 

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