A engenharia internacional contra Bolsonaro: o papel da USAID, do STF e da mídia na narrativa sobre “proteção da democracia” no Brasil
Desde a posse de Jair Bolsonaro em janeiro de 2019, o Brasil passou a ser alvo de um esforço sistemático de organismos internacionais e entidades ligadas ao governo dos Estados Unidos para redesenhar o cenário político nacional. A denúncia, apresentada em minúcias por Mike Benz — ex-integrante do Departamento de Estado dos EUA — revela como o Projeto Mundial de Justiça, financiado pela USAID, atuou nos bastidores das instituições brasileiras, com especial ênfase no Judiciário, na mídia e na sociedade civil.
Segundo a transcrição de vídeo de quase meia hora publicado na noite desta segunda-feira(19) na sua conta do X, a eleição presidencial brasileira de 2022 foi o ponto central de uma estratégia orquestrada e financiada por milhões de dólares norte-americanos. O objetivo declarado era “proteger a democracia”; o objetivo real, segundo Benz, era impedir a reeleição de Bolsonaro e consolidar um modelo de controle narrativo e institucional que favorecesse os interesses do chamado “bloco” — uma aliança transnacional de poder político e ideológico.
Esse projeto incluiu a formação de uma força-tarefa em parceria com o Ministério Público de São Paulo e o engajamento direto com juízes e promotores brasileiros, especialmente na atuação contra apoiadores do então presidente. Paralelamente, organizações da sociedade civil foram mobilizadas para censurar conteúdos considerados “desinformação”, abrangendo declarações de Trump, Bolsonaro, Marine Le Pen e outros líderes classificados como “populistas”. A liberdade de expressão foi reinterpretada: passou a significar “liberdade com capacidade de censura”, sob a justificativa de garantir “informação confiável”.
Benz relata que conheceu, recentemente, uma delegação brasileira em Miami. No dia seguinte a esse encontro, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, fez declarações públicas agradecendo o “apoio decisivo dos EUA à democracia brasileira”. Segundo o denunciante, essa fala corrobora toda a articulação denunciada: reuniões com a embaixada americana, cooperação com o Departamento de Estado e a CIA, além da coordenação direta com o TSE — Tribunal Superior Eleitoral — presidido por Alexandre de Moraes.
Barroso admitiu ter se reunido diversas vezes com diplomatas americanos, inclusive para solicitar declarações públicas de apoio à “resiliência digital” do Brasil, e à repressão de vozes conservadoras em redes sociais como WhatsApp e Telegram. Tudo isso faria parte de um “programa formal da USAID” para controlar juízes e consolidar uma rede institucional de censura. O envolvimento do NDI (National Democratic Institute), vinculado ao Partido Democrata dos EUA, é descrito como central nesse processo.
A denúncia também destaca a continuidade da cooperação militar entre EUA e Brasil, mesmo após a eleição de Lula, o que, para Benz, revela o interesse estratégico americano em manter o Brasil sob influência. Ele questiona: por que os Estados Unidos seguem enviando treinamento e equipamento militar a um governo que, no passado recente, foi acusado de corrupção e inelegibilidade?
Entre os mecanismos dessa engenharia, está a premiação de organizações que demonstraram capacidade de “influenciar juízes e promotores” a restringir conteúdos online. O foco recai sobre uma coalizão de mais de 200 ONGs que receberam recursos da USAID e da National Science Foundation para “mapear a desinformação” e proteger, segundo o autor, “as estruturas de poder da CIA no Brasil”. O trabalho dessas entidades se estende ao engajamento da juventude e à produção de jurisprudência que justifique legalmente a censura.
Por fim, Benz denuncia a atuação direta do MEDAN (Media and Democracy Analysis Network), financiado com US$ 5,7 milhões, para operar políticas de censura em colaboração com os agentes do Projeto Mundial de Justiça. O acesso aos manuais e materiais orientadores dessas organizações é restrito e depende da entrega de dados pessoais, o que levanta sérias dúvidas quanto à transparência e ao respeito aos princípios democráticos que tais projetos afirmam defender.
https://x.com/MikeBenzCyber/status/1924648951233323210?s=19
O relato de Mike Benz escancara um modelo de governança transnacional onde soberanias nacionais, como a brasileira, estariam sendo deliberadamente enfraquecidas em nome de um conceito vago de “democracia protegida”. No centro da engrenagem, está um Judiciário colaborativo, uma mídia engajada e uma rede de ONGs sustentadas por dólares estrangeiros.
Hamilton Silva
Jornalista, economista e editor do portal DFMobilidade
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