Brasil propõe resgate de investimentos estratégicos em Moçambique
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou em visita oficial a Maputo nesta segunda-feira que o governo brasileiro busca reposicionar a presença econômica e estratégica do país em Moçambique, com foco em infraestrutura, saúde, agricultura e formação técnica. Segundo ele, o país africano “ainda possui lacunas de infraestrutura a suprir”, nas quais empresas brasileiras teriam capacidade para atuar.
Lula enfatizou a necessidade de restabelecer mecanismos de financiamento externo — em especial por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — para viabilizar a atuação brasileira no país africano. “Nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer opções de crédito”, declarou.
Na agenda, o Brasil pretende oferecer a Moçambique até 80 vagas em cursos de formação de formadores em ciências agrárias e até 400 vagas em cursos técnicos voltados à agropecuária, por meio da Embrapa e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC).
Do ponto de vista crítico, cabe observar que a iniciativa revela mais uma vez o anunciado reposicionamento brasileiro em África, mas encontra dois desafios estruturais: 1) a necessidade real de garantir que o BNDES ou outra instituição pública disponha de recursos suficientes e condições de risco compatíveis para atuar em mercados de menor previsibilidade; 2) o histórico de investimento público internacional brasileiro que costuma sofrer com lentidão, baixos retornos percebidos e falta de transparência — risco que persiste, sobretudo em cenários com governos externos menos estáveis.
Em suma, a proposta é ambiciosa e conecta-se à tradição brasileira de cooperação Sul-Sul — ainda que traduza, na prática, uma nova dependência de crédito para exportação de serviços brasileiros.
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