O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta simultaneamente um isolamento crescente no cenário internacional e índices de desaprovação em elevação recorde no país, de acordo com análise da revista britânica The Economist e levantamentos de importantes institutos de pesquisa.
Segundo The Economist (ed. de 29 de junho de 2025), Lula “perdeu sua influência com seus pares internacionais” e governa sem respaldo popular. A publicação destaca a debilidade diplomática do Brasil nas Américas, notando o afastamento do presidente argentino Javier Milei – hoje mais alinhado aos Estados Unidos – e a falta de esforço do Itamaraty para estreitar relações com Washington desde a posse de Donald Trump. Enquanto isso, o Brasil aproxima-se mais de Pequim e Moscou, expondo-se a críticas de alinhamento excessivo aos interesses chineses e russos no BRICS.
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No plano doméstico, duas pesquisas divulgadas em 12 de junho de 2025, uma pelo Datafolha e outra pelo Ipsos-Ipec, apontam que apenas 28% dos entrevistados classificam o governo como “ótimo” ou “bom”, enquanto 40% o consideram “ruim” ou “péssimo”; o Ipsos-Ipec registra 25% de avaliações positivas contra 43% de negativas. Esses números representam os piores índices de popularidade de Lula em seus três mandatos, confirmando uma estagnação na recuperação de sua aprovação após oscilações pontuais no início do ano.
Além da rejeição popular, o Executivo sofreu uma derrota histórica no Congresso ao ter seu decreto que elevaria o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) derrubado por ambas as Casas. Em 25 de junho de 2025, parlamentares revogaram a medida executiva que previa arrecadar R$ 61,5 bilhões até 2026, revelando a fragilidade da base do governo na aprovação de sua agenda econômica.
No âmbito diplomático, o posicionamento crítico do Brasil contra o ataque dos EUA a instalações nucleares do Irã, publicado em nota do Itamaraty em 22 de junho, gerou mal-estar entre aliados ocidentais. O ministério condenou “com veemência” a ação americana, alegando violação da soberania iraniana e do direito internacional, o que acentuou a percepção de descompasso entre Brasília e suas antigas referências democráticas.
Especialistas locais e externos ouvidos pela Economist e pela imprensa brasileira sublinham que, “quanto mais o BRICS serve à política externa da China e ao apoio russo à guerra na Ucrânia, mais difícil se torna para o Brasil manter qualquer ambição de não-alinhamento”, nas palavras de Matias Spektor, professor da FGV. Um diplomata senior descreve o momento como de “contenção de danos” em vez de inovação diplomática.
Esse duplo revés – interno e externo – projeta efeitos diretos sobre o pleito presidencial de 2026. A Economist alerta que, se a oposição conseguir consolidar um nome único e mobilizar a direita em torno dele, a vitória estará praticamente assegurada. Em Brasília, analistas políticos consideram que o fragor da disputa dependerá do governo encontrar respostas urgentes a desafios fiscais, de credibilidade e de política externa no próximo semestre.
Diante deste cenário, a capacidade de articulação política e o reposicionamento diplomático poderão definir não apenas o legado do atual mandato, mas também o desenrolar da sucessão presidencial. O governo Lula tem pela frente o desafio de reconstruir pontes tanto em Brasília quanto em capitais estrangeiras, sob o risco de ver minada sua relevância estratégica no mundo e de perder subsequentes condições de governabilidade.
Hamilton Silva
Hamilton Silva é jornalista e economista, editor-chefe do Portal DFMobilidade. Graduado em Economia pela Universidade Católica de Brasília e pós-graduado em gestão financeira.
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