flotilha zarpou de barcelona após recuo pelo mau tempo. o barco de greta — “family”, casco de aço e motor a diesel — é um projeto britânico de 1969. estimativas conservadoras indicam de 12 a 22 toneladas de CO₂ só na travessia, dependendo do regime de operação.
o fato
A Global Sumud Flotilla partiu de Barcelona no domingo (31/8), chegou a recuar por causa do vento forte e voltou a zarpar na noite de segunda (1/9), levando ativistas — entre eles Greta Thunberg — e uma simbólica carga de ajuda a Gaza. As saídas e o “vai e vem” por conta do clima foram documentados pela Reuters, com imagens assinadas em Barcelona e publicadas também via Reuters Connect.
o navio
O barco em que Greta aparece embarcada é o M/Y Family (também referido como “Family Madeira”), 23,9 m, casco de aço, lançado em 1969 pelo estaleiro C.D. Holmes no Reino Unido — originalmente um “fleet tender” de apoio da Royal Navy, convertido depois em iate familiar. Não é veleiro: é iate a motor movido a diesel.
Listagens de mercado de embarcações da mesma classe (Clovelly/Fleet Tender, 24 m) indicam velocidade de cruzeiro ~7–8,5 nós e consumo típico reportado de ~23 L/h a 8,5 nós (anúncio de um Clovelly idêntico) ou ~5 litros por milha náutica (outro anúncio técnico, com 9.600 L de tanque e 5 L/nm de “economy”). Ou seja: mesmo “de leve”, é diesel queimando em ritmo de dezenas de litros por hora.
A conta de CO₂ (sem maquiagem)
A distância direta Barcelona–Gaza é da ordem de 1.659 milhas náuticas (~3.072 km). Usando fatores oficiais para diesel de ~2,6–2,7 kg de CO₂ por litro (EPA e órgãos técnicos), a travessia no “Family” despeja algo entre:
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Cenário parcimonioso (23 L/h @ 8,5 nós): ~4.489 L → ~12 t de CO₂.
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Cenário conservador (5 L/nm): ~8.295 L → ~22 t de CO₂.
Equivalências didáticas: 12–22 t de CO₂ correspondem a ~3 a ~5 “carros-ano” (um carro típico emite ~4,6 t/ano). “Salvar o planeta” em cruzeiro, portanto, vem com recibo.
Nota técnica: Navios dessa geração nasceram antes das regras modernas de emissões da IMO (MARPOL Anexo VI/Tier II-III). Mesmo que estejam legais para operar, a tecnologia base é de outra época — e diesel marinho segue sendo um combustível de alto teor de CO₂, NOx e material particulado quando comparado a alternativas como propulsão híbrida/eletrica assistida por vela.
O paradoxo
Greta fez carreira condenando combustíveis fósseis; agora atravessa o Mediterrâneo num iate a diesel de 1969. É o tipo de incoerência que cabe numa foto — e pesa numa planilha. Enquanto a flotilha tenta “abrir um corredor humanitário”, o corredor de emissões fica por conta do escape. “Fazer o certo da forma certa” não é detalhe: é credibilidade.
Por que isso importa
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Mensagens importam: ativismo que exige sacrifícios alheios, mas ignora escolhas próprias, perde força junto ao público que paga a conta.
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Transparência climática: se a missão precisa de motor (ok), que ao menos publique o inventário de emissões e a compensação — não com slogans, mas com números auditáveis.
Fontes-chave: partida/retorno por clima e presença de Greta (Reuters); especificações do “Family” (SuperYacht Times, listagem de venda); distância (Travelmath); fatores de CO₂ para diesel (EPA/Canadá).
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