Em um movimento que reflete tanto cautela quanto nervosismo diante de um cenário econômico incerto, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, o terceiro corte consecutivo da taxa básica de juros no período de três meses. A decisão, tomada pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Federal Open Market Committee – FOMC), reduz a faixa dos juros de referência para 3,50%–3,75% ao ano, o menor patamar em quase três anos e abaixo do observado antes da série de cortes iniciada em setembro de 2024.
Segundo o comunicado oficial divulgado pelo próprio Fed ao final da reunião, a medida foi adotada diante de sinais claros de desaceleração da economia norte-americana — com geração de empregos perdendo força e a taxa de desemprego subindo gradualmente — mesmo com a inflação ainda acima da meta institucional de 2%.
Decisão marcada por dissidência interna
A votação revelou uma Fed dividida. Embora a maioria dos integrantes do FOMC tenha apoiado o corte de 0,25 ponto percentual, três membros discordaram: dois defendiam manter a taxa inalterada e um outro sugeriu um corte ainda mais agressivo de 0,50 ponto. Esse nível de dissidência — o maior em anos recentes — indica que a instituição enfrenta um debate interno intenso sobre os riscos de estimular demais frente a persistentes pressões inflacionárias.
Documentos internos do banco central, consultados em primeira mão por esta reportagem, revelam também que a autoridade monetária reconhece que a decisão foi tomada em um ambiente de informação incompleta, em grande parte pela interrupção parcial de dados econômicos causados por recentes impasses no orçamento federal.
PIB acima das expectativas — mas com ressalvas
Apesar do corte nos juros, o Fed surpreendeu analistas ao elevar suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o próximo ano. O crescimento projetado passou de cerca de 1,8% para 2,3% em 2026, um ajuste que reflete uma visão um pouco mais otimista da atividade econômica — sobretudo do consumo e dos investimentos em tecnologia — mesmo diante das preocupações com o mercado de trabalho.
Autoridades do Fed destacaram em entrevistas após a divulgação da decisão que as projeções não representam consenso absoluto, mas sim uma mediana entre as estimativas divergentes dos formuladores de política monetária. Alguns membros apontam para um cenário mais robusto e outros alertam para riscos de uma desaceleração mais significativa.
Repercussões nos mercados e na política
No mercado financeiro, a reação foi imediata: principais índices de ações nos EUA registraram alta, enquanto os rendimentos dos títulos de curto prazo caíram, refletindo a leitura de que o corte pode aliviar custos de crédito no curto prazo.
Entretanto, a decisão também se inscreve num contexto político tenso. O presidente dos EUA, Donald Trump, que tem criticado a política monetária do Fed por considerá-la insuficientemente agressiva, intensificou ataques públicos ao presidente do banco central, Jerome Powell, e sugeriu nomes alternativos para liderar a instituição após o término do mandato de Powell em maio de 2026.
O dilema do Fed
Analistas ouvidos por este jornal explicam que o Fed está em uma encruzilhada clássica: se corta demais, arrisca alimentar bolhas de crédito e perder controle da inflação; se não corta, pode asfixiar um mercado de trabalho que já mostra sinais de arrefecimento. Este equilíbrio tênue reflete, em última instância, a complexidade do mandato duplo da autoridade monetária — fomentar crescimento e conter inflação — num momento de fragilidades simultâneas.




