Marconi Perillo (PSDB) se movimenta para disputar o governo de Goiás em 2026, mas o passado pesa como chumbo. O ex-governador carrega no currículo a prisão preventiva de 10 de outubro de 2018, no âmbito da Operação Cash Delivery — saiu no dia seguinte por habeas corpus, mas o estrago político ficou. Em 2020, veio a condenação por caixa 2 referente à campanha de 2006 (pena de 1 ano e 8 meses, substituída por serviços comunitários). É o tipo de lembrança que não cabe no santinho, mas gruda no eleitor.
Sem a musculatura de outros tempos e à frente de um PSDB combalido, Marconi tenta redesenhar o tabuleiro. A sigla aprovou a fusão com o Podemos e, se a união for confirmada, ele seguiria como protagonista na nova legenda — um esforço para dar sobrevida nacional a um projeto que encolheu. A leitura é clara: quando falta voto, busca-se estrutura.
O movimento mais ruidoso, porém, é o aceno ao PT goiano para montar um palanque que favoreça Lula no estado. A conversa existe — com idas e vindas, resistências antigas e muito pragmatismo eleitoral — e já foi registrada por veículos locais neste primeiro semestre de 2025. Tradução: “inimigos” de ontem topam dividir o mesmo palco amanhã, desde que cada um ganhe o seu quinhão. Se colar, Marconi tenta vestir o figurino do “novo” com a ajuda de quem sempre demonizou. Se não colar, vira mais um capítulo da longa novela da sua reabilitação política.
Enquanto isso, a reconstrução da base avança em ritmo de missa de domingo: devagar, silenciosa e cercada de velhos conhecidos. É uma aposta alta para quem ainda responde pelo desgaste acumulado em investigações e decisões judiciais — inclusive a denúncia por propina no rastro da Odebrecht, peça que alimentou seu labirinto jurídico desde 2018.
No fim, a equação que ele oferece ao eleitor é simples — e incômoda: pedir segunda chance enquanto negocia primeira fila no palanque de Lula. Na política, costuma ser como no provérbio popular: gambá anda com gambá. Quem Marconi escolhe para caminhar ao lado diz mais sobre o seu projeto do que qualquer slogan de campanha.
Hamilton Silva é jornalista, editor-chefe do portal DFMobilidade e economista formado pela Universidade Católica de Brasília. Vice-presidente do Rotary Club de Brasília e diretor da Associação Brasileira dos Portais de Notícias (ABBP)