Aumento das tarifas empurra passageiros para o transporte pirata no Entorno 

Foto: Divulgação/Agência Brasília
Foto: Divulgação/Agência Brasília

O transporte semiurbano que liga o Distrito Federal às cidades do Entorno entrou em nova fase de crise. Desde esta terça-feira (23), as tarifas dos ônibus tiveram reajuste de 2,9%, autorizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os valores atualizados já superam o cobrado por motoristas irregulares, ampliando a migração de passageiros para o chamado transporte pirata.

Em Águas Lindas (GO), a passagem subiu de R$ 10,85 para R$ 11,15. Em Luziânia (GO), no trecho até Taguatinga, os preços passaram de R$ 10,35–11,65 para R$ 10,70–12,05. Em Planaltina (GO), de R$ 11,05 para R$ 11,35, e em Valparaíso (GO), de R$ 4,90–8,85 para R$ 5,05–9,15. Enquanto isso, motoristas clandestinos oferecem o mesmo percurso por valores menores, atraindo cada vez mais usuários.

Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Rodoviários de Passageiros (ANATRIP), apenas na linha Planaltina (GO)–Brasília houve redução de quase 50% na demanda. Em 2018, a linha transportava 22 mil passageiros por dia; em 2025, são pouco mais de 12,5 mil. Hoje, mais de 4 mil pessoas da região organizam viagens em vans e carros particulares por meio de grupos de aplicativos.

O secretário executivo da ANATRIP, Gabriel Oliveira, destacou que a situação financeira das empresas é crítica. “A ANATRIP não é a favor da aplicação do reajuste. O que defendemos é a entrada de recursos no transporte do Entorno. Há mais de cinco anos não entra dinheiro suficiente para pagamento de folha, renovação de frota e manutenção. Esse aumento de pouco mais de 2% é apenas para cumprir obrigações trabalhistas, mas, sem subsídio, não resolve a crise.”

Ele também alertou para o risco de paralisação. “O sucateamento do sistema é um risco real. Sem tarifa ou recurso do consórcio, não há como pagar os colaboradores nem manter a frota. O passageiro é quem sofre, porque acaba pagando caro por um serviço precário ou se arriscando no transporte pirata.”

O desafio não está apenas nas tarifas. Em cidades como Luziânia, cada veículo roda em média 640 km por dia, um número sem paralelo em sistemas urbanos do Brasil e do mundo. O gasto mensal apenas com combustível ultrapassa R$ 8,9 milhões. Sem aporte público, o valor recai sobre os passageiros, que pagam caro por ônibus antigos, superlotados e com atrasos constantes.

Dentro do Distrito Federal, a diferença é clara: o governo subsidia o transporte. Uma viagem que custaria R$ 14 ao usuário sai por R$ 5,50, com o Estado cobrindo a diferença. No Entorno, um trajeto de 80 km custa em média R$ 11, mas o valor real ultrapassaria os R$ 30.

Na última semana, os governadores de Goiás e do Distrito Federal, Ronaldo Caiado e Ibaneis Rocha, assinaram o protocolo de intenções para a criação do Consórcio Interfederativo da Região Metropolitana do Entorno (CIRME). O objetivo é modernizar a gestão do transporte semiurbano, criando um modelo compartilhado entre os dois governos.

O consórcio terá sede em Brasília, personalidade jurídica própria e funcionará em sistema de revezamento: Goiás assume a presidência nos primeiros dois anos e o DF nos dois seguintes. Entre as metas estão:
• Definição de uma política tarifária justa e transparente;
• Revisão de rotas e itinerários para melhorar o atendimento;
• Modernização da frota de ônibus;
• Integração entre cidades goianas e o Distrito Federal;
• Possibilidade de firmar parcerias com o poder público e a iniciativa privada para investimentos.

Apesar da assinatura do protocolo, ainda é preciso aprovar o estatuto, definir a estrutura organizacional e assinar convênios com a ANTT, garantindo a delegação de competências. A expectativa é que, com a implementação, passageiros sintam melhorias concretas, como tarifas mais equilibradas e maior qualidade do serviço.

Enquanto isso, o dilema continua: pagar mais caro pelo transporte regular ou se arriscar no pirata, que atrai pela economia imediata, mas oferece riscos de insegurança e falta de garantias.

FONTE: JORNAL OPÇÃO

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