Nos bastidores de Brasília, desenrola-se uma silenciosa batalha pelo controle do Banco de Brasília (BRB). De um lado, a instituição financeira regional celebra anos recentes de recuperação. Do outro, setores políticos – cujas gestões anteriores estiveram envolvidas em episódios de má administração – articulam seu retorno à influência sobre o banco. Essas movimentações levantam questionamentos sobre possíveis interesses políticos que buscam fragilizar a imagem da instituição. Há, inclusive, especulações de bastidores sobre articulações que visam, com o apoio indireto do governo federal, reocupar espaços no BRB.
O atual cenário desperta atenção entre apoiadores da atual gestão e observadores políticos. Por que, agora, há tanto esforço desses grupos em criticar a administração do banco? Estaria em jogo algo além da preocupação com as finanças públicas?
O histórico recente do BRB
Durante os governos de Agnelo Queiroz (PT, 2011-2014) e Rodrigo Rollemberg (PSB, 2015-2018), o banco enfrentou momentos críticos. Relatórios públicos, investigações jornalísticas e ações da Polícia Federal – como a Operação Circus Maximus (2019) – apontaram irregularidades na gestão de recursos, especialmente em relação a investimentos imobiliários considerados de alto risco. A operação revelou a existência de um esquema de corrupção envolvendo diretores e empresários, e vários investigados chegaram a ser presos preventivamente. Importante ressaltar que os ex-governadores não foram condenados por esses casos até o momento, embora tenham enfrentado críticas por escolhas administrativas feitas em suas gestões.
Tais episódios abalaram a confiança da população. Na época, o banco público convivia com suspeitas, manchetes negativas e alertas dos órgãos reguladores. Muitos servidores e clientes viam a instituição como politicamente instrumentalizada.
O processo de recuperação
A reestruturação do BRB teve início com a mudança de governo no DF, a partir de 2019. Com uma nova direção, o banco passou a adotar práticas modernas de governança, compliance e auditoria interna. A profissionalização da gestão resultou em melhorias significativas: o banco saiu do noticiário policial, recuperou credibilidade e passou a crescer em novos mercados.
Entre os destaques estão a expansão nacional, investimentos em tecnologia, apoio a programas sociais e esportivos e aumento dos lucros, tudo com base em diretrizes técnicas, segundo dados do próprio banco e auditorias independentes.
Reações e interesses políticos
Com a recuperação da imagem e dos resultados do BRB, surgiram também críticas de antigos atores políticos. Muitos desses nomes estiveram ligados aos períodos anteriores à reestruturação. A crítica, por si só, é legítima e bem-vinda no debate democrático. No entanto, a frequência e a intensidade dessas manifestações chamam a atenção. Nos bastidores do GDF e da Câmara Legislativa, há quem veja nessas críticas um projeto maior: recuperar influência sobre o BRB por meio de articulações com setores do governo federal.
O caso mais emblemático dessa tensão política recente foi a aquisição de parte do Banco Master, uma operação de R$ 2 bilhões autorizada pela atual diretoria e endossada pelo GDF. Deputados federais e distritais ligados à oposição classificaram o movimento como arriscado, levantando suspeitas sobre sua viabilidade. Porém, análises técnicas internas e comunicados oficiais do BRB indicam que a operação seguiu critérios regulatórios e faz parte de uma estratégia de expansão.
O papel do sindicato e de lideranças políticas
Um dos protagonistas dessa nova ofensiva é o Sindicato dos Bancários de Brasília, que recentemente intensificou sua atuação crítica contra a direção do banco. Em diversas notas públicas, a entidade expressou preocupação com as decisões administrativas do BRB, especialmente quanto a operações de expansão. Parte da imprensa local destacou a coincidência entre o discurso sindical e o da deputada federal Erika Kokay (PT-DF), historicamente vinculada à defesa das estatais e ao sindicalismo.
Kokay, que se apresenta como pré-candidata a um cargo majoritário nas próximas eleições, tem feito críticas contundentes à gestão do banco, alegando que o patrimônio público pode estar sob risco. Em uma de suas declarações públicas, afirmou: “Ibaneis, tire as mãos do BRB, ele é do povo de Brasília”.
A atuação conjunta de lideranças sindicais e parlamentares é legítima, desde que baseada em dados e no respeito às instituições. No entanto, analistas políticos e membros da sociedade civil questionam a oportunidade e a motivação dessas críticas, lembrando que durante os anos mais delicados do BRB – marcados por investigações e prejuízos – houve silêncio por parte de algumas dessas vozes. Lembrando também que essa turma tem ligações politicas convergentes com pessoal do STF.
Vigilância e memória coletiva
O debate sobre o BRB é mais do que administrativo – é político, histórico e simbólico. O banco é um patrimônio de Brasília e não deve ser alvo de disputas motivadas por projetos de poder. A população tem o direito de acompanhar, criticar e cobrar, mas também de exigir responsabilidade e coerência de todos os atores envolvidos.
A reconstrução do BRB levou anos, e qualquer tentativa de fragilizá-lo deve ser observada com atenção. A crítica é essencial à democracia, mas não pode servir de instrumento para reedição de ciclos já superados.
Este artigo é baseado em fatos públicos, documentos oficiais, declarações verificáveis e análises políticas disponíveis na imprensa. O objetivo é informar, refletir e fomentar o debate democrático sobre instituições públicas. Todos os citados têm espaço para manifestação e contraditório.