Como a febre dos patinetes elétricos no DF revela desafios de política e adoção de micromobilidade

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Nas últimas semanas, Brasília tem vivido uma verdadeira onda de micromobilidade: desde 30 de janeiro, patinetes elétricas compartilhadas chegaram ao Plano Piloto e a Águas Claras em um teste de 90 dias. Em pouco mais de um mês, o serviço já bateu recordes de uso e cadastros – mas esses números trazem pistas importantes sobre o potencial e os limites de uma política pública que mira no futuro da mobilidade urbana.

1. o boom inicial e o “efeito novidade”
Em apenas nove dias, quase 48 000 brasilienses se cadastraram no aplicativo da JET, parceira do GDF para este piloto. Esse surto inicial de adesão sugere um enorme apetite pela novidade: dados mostram que, na prática, a fase de lançamento costuma concentrar a maior parte dos cadastros, mesmo antes de o público experimentar efetivamente o modal.

2. da empolgação à sustentabilidade política
Embora o teste siga até o fim de abril, os últimos 21 dias registraram apenas mais 12 000 novos cadastros. Esse platô precoce aponta para dois desafios simultâneos:

  • Manutenção de engajamento: como evitar que a novidade se dissipe?
  • Inclusão setorial: os dados preliminares indicam maior concentração de uso no Plano Piloto; sem infraestrutura ou divulgação em outras regiões, o serviço pode esbarrar em limitações sociais e geográficas.

3. lições para o design de políticas públicas

  • Ajuste de oferta: a curva de adoção sinaliza que pode haver excesso de scooters em certas áreas e escassez em outras. O secretário de Mobilidade precisará calibrar o chamamento público com base nesses números para não desperdiçar recursos.
  • Integração com trilhos e ônibus: usar o mesmo app ou um sistema unificado de pagamento facilitaria a “última milha” e evitaria que a patinete vire mera opção de lazer.
  • Comunicação segmentada: campanhas focadas em condomínios, empresas e universidades podem reduzir o gap de uso em regiões emergentes da cidade.

O teste dos patinetes elétricos no DF já prova que há demanda e curiosidade, mas também mostra que a gestão não pode se limitar ao entusiasmo inicial. A análise de dados em tempo real — como este esboço demonstrou — é ferramenta indispensável para transformar uma febre de estreia em um modal sustentável e equitativo. Em outras palavras: se quisermos que os patinetes façam parte do dia a dia do brasiliense, precisamos ir além do marketing e alicerçar a micromobilidade em infraestrutura, integração e planejamento político.


Próximo passo: monitorar variações de uso por dia da semana, horas de pico e integração com o metrô-DF para ajustar rotas e tarifação.

 

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