Em 2 de junho, a Executiva do Cidadania-DF oficializou a pré-candidatura do ex-governador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque à Câmara dos Deputados nas eleições de 2026, reforçando a estratégia de resgatar nomes históricos para tentar superar a fragmentação eleitoral local . Aos 81 anos, Buarque retoma a arena política após seis anos fora dos palanques, embalado pela “preocupação com os rumos do país” e o prestígio intelectual sobre educação, mas carrega o risco de significar mais nostalgia que renovação num cenário em que o eleitor confia cada vez menos em políticas superficiais e mais em propostas de futuro sólido .
Trajetória e críticas à aposta
Cristovam Buarque construiu sua carreira a partir da experiência acadêmica e das gestões no DF (1995-1999) e no Ministério da Educação (2003-2004), ficando marcado por programas pioneiros como o Bolsa-Escola . Contudo, a transição de sua biografia para a disputa proporcional revela a dependência do Cidadania em nomes consagrados no passado, em vez de abrir espaço a lideranças emergentes e compromissadas com a realidade atual do Distrito Federal . Essa estratégia alimenta dúvidas sobre a capacidade efetiva de sua campanha em mobilizar além do “grupo de admiradores do intelectual”, sobretudo quando a máquina partidária carece de recursos para financiar uma disputa proporcional que, historicamente, exige fôlego financeiro e mobilização jovem.
No âmago da decisão, estão articulações antecipadas para criar uma “base de debate sobre educação” e captar votos de professores, estudantes e setores do terceiro setor, mas persiste o receio de que o chamado “efeito bolo de neve” não supere a dispersão de votos que vem castigando legendas de porte médio no DF . O Cidadania, que vacilou ao não apresentar quadros novos para a disputa majoritária, aposta agora na reverberação midiática de seu nome para compor a chapa proporcional, correndo o risco de reforçar a percepção de falta de inovação e de se apegar a velhas glórias – postura que, se não acompanhada de propostas concretas e conectadas às urgências locais (habitação, transporte e segurança), pode resultar em baixa penetração eleitoral.
Ao oficializar Cristovam Buarque como pré-candidato, o Cidadania demonstra cautela em não descartar a memória afetiva do eleitorado, mas expõe fragilidades: a ilusão de que recalls históricos bastam para vencer disputas proporcionais e a carência de alternativas jovens e representativas. A aposta recairá, portanto, sobre o quanto seu legado educacional ainda ecoa nos eleitores e se haverá articulação eficaz para transformar prestígio intelectual em votos concretos, quando o cenário político exige propostas que transcendam a retórica de costumes.
Sobre o autor
Hamilton Silva é jornalista e economista, editor-chefe do portal DFMobilidade, membro do Rotary Club de Brasília e diretor da ABBP (Associação Brasileira dos Portais de Notícias). Formado em Economia pela Universidade Católica de Brasília, com pós-graduação em Gestão Financeira, Silva atua há 27 anos no jornalismo político e de mobilidade urbana.
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