Brasília, minha única amante e amor eterno

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Nasci em Brasília em 1969 no Hospital Regional do Gama. E mesmo antes de entender o mundo, já respirava a poeira vermelha do cerrado como quem carrega nas veias o traço da cidade. Cresci vendo fuscas e rurais desfilando lentos pela W3, eixos que mais pareciam passarelas de um tempo que andava sem pressa. Brasília era outra, e ao mesmo tempo já era tudo.

Me criei entre as quadras que aprendemos a chamar de “super”, onde o concreto encontrava a poesia de Niemeyer e a ordem de Lúcio Costa, nem sabia quem era esses, mas enfim…desenhava o nosso cotidiano. Ainda jovem, frequentei o Bobodramo da Amarelinha no Centro do Gama — aquele point que foi abrigo de amores adolescentes, encontros improváveis e risadas livres, sob a luz amarelada dos postes antigos. E como esquecer a adrenalina dos pegas no retão do aeroporto? Corridas clandestinas e inocentes que alimentavam a fome de liberdade da juventude brasiliense.

A Boate Zoon pulsava como um coração eletrônico na capital. Ali, dançávamos o presente como se o futuro não fosse chegar — mas ele chegou. Chegou com a redemocratização do Brasil, que vi nascer com os próprios olhos, marchando junto à multidão na Esplanada dos Ministérios. Estávamos lá, bandeiras nas mãos, esperança no peito. Brasília, mais uma vez, era palco — e protagonista.

Lembro também dos bailes do Cebola — que festa era aquela! Se as paredes das escolas públicas falassem, contariam histórias de amizades seladas no suor da pista, paixões que duraram um verão ou uma vida, e a trilha sonora de uma juventude que hoje vive na memória.

Hoje, aos 65 anos de Brasília, celebro uma cidade que amadureceu junto comigo. A capital cresceu, se expandiu, e enfrentou os seus próprios dilemas. Mas também venceu desafios. A mobilidade urbana, por exemplo, avançou: temos mais faixas exclusivas de ônibus, a expansão do metrô em curso, ciclovias cortando a cidade de norte a sul, além de projetos ousados como o túnel de Taguatinga e o BRT ligando as pontas do DF.

Na saúde, evoluímos. Não é um sistema perfeito — longe disso —, mas vemos mais hospitais regionais, mutirões de exames, modernização no atendimento com prontuário eletrônico e UBS funcionando com horário estendido. A cidade, que antes mal suportava suas demandas básicas, agora respira um pouco mais aliviada.

A qualidade de vida, para quem sabe olhar, também floresceu. Brasília ainda é verde. O céu continua a ser o maior monumento da cidade. E há algo na forma como o vento dança entre as tesourinhas e os ipês que só entende quem vive aqui.

Sou grato por ter nascido neste chão. Brasília, para mim, não é apenas a capital do país. É a capital da minha existência. Meu porto seguro e meu campo de batalha. A cidade que me ensinou a lutar e sonhar. Minha única amante. Meu amor eterno.

Parabéns, Brasília. E obrigado por tudo.

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