A disputa pelo Governo do Distrito Federal começa a se desenhar com mais nitidez – e quem está jogando nas entrelinhas com precisão cirúrgica é Celina Leão. A vice-governadora, que há tempos deixou de ser apenas coadjuvante na cena local, agora surge como a favorita silenciosa, beneficiada por um conjunto de fatores que, se bem interpretados, apontam para sua ascensão inevitável nas próximas sondagens de opinião.
Abaixo trago vetores principais que explicam o momento político que favorece Celina e devem colocá-la, com folga, em posição privilegiada na próxima rodada de pesquisas:
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1. O escândalo que implodiu a “moralidade seletiva” da direita tradicional
A revelação do suposto envolvimento de Fred Linhares com a Associação Moriá – entidade que teria recebido volumosos repasses via emendas parlamentares, sem transparência e com indícios de desvio de finalidade – atingiu em cheio o setor da centro-direita dita moralista. Nomes como Bia Kicis e Izalci Lucas, historicamente ligados ao bolsonarismo e à pauta anticorrupção, também aparecem orbitando o caso.
O desgaste é óbvio: se antes essas figuras surfavam o discurso da honestidade, agora enfrentam a contradição de se verem próximos de práticas que tanto condenaram. Esse esvaziamento moral abre espaço para uma figura como Celina, que – goste-se ou não – mantém-se distante de escândalos recentes, blindada por uma imagem de firmeza e articulação institucional.
2. O tiro no pé da esquerda: PT dobra a aposta com Leandro Grass
A filiação de Leandro Grass ao Partido dos Trabalhadores foi lida por muitos como movimento estratégico. Mas, ao contrário: reacende velhas feridas. Grass, embora conhecido por setores progressistas, é visto por boa parte do eleitorado como “mais do mesmo” — uma repetição enfadonha da cartilha petista em versão brasiliense. Para piorar, seu nome aparece como figura de transição num campo já fragmentado pela presença de outro personagem: Ricardo Capelli.
Capelli, esse sim forasteiro declarado, tenta a todo custo se colocar como opção majoritária, embora seu destino mais provável seja uma candidatura a deputado federal. Pupilo de Flávio Dino (ministro relator do escândalo Moriá) em Brasília, Capelli se notabiliza mais por sua sede de protagonismo do que por vínculos reais com o eleitorado local. O resultado? Um progressismo rachado, confuso e sem unidade.
3. Lula, economia e insegurança jurídica: a tempestade perfeita para os aliados do Planalto
O cenário econômico nacional pesa, e muito. O governo Lula coleciona indicadores negativos: crescimento tímido, fuga de investimentos, instabilidade jurídica e crises políticas em série. Isso tudo reverbera no plano local. Não há como dissociar o fracasso da economia nacional do desempenho eleitoral dos nomes ligados ao governo federal no DF.
Celina, neste aspecto, nada de braçada: embora tenha sido aliada pontual de Lula em algumas pautas, sua imagem está preservada da pecha de “governista federal”. Ao contrário de Grass e Capelli, que caminham lado a lado com o Planalto, Celina mantém-se numa posição de independência estratégica.
4. A tentativa frustrada de requentar o caso Drácon
Não se pode ignorar as tentativas da oposição em explorar, mais uma vez, o já desgastado caso da Operação Drácon. A movimentação é clara: tentar colar em Celina a pecha de envolvimento em escândalo passado. Mas a narrativa não se sustenta. O eleitor médio percebe o uso político seletivo da memória judicial. Celina seguiu em frente, cresceu politicamente, assumiu protagonismo e, mais importante, conta com a confiança do governador Ibaneis Rocha. A pauta não cola mais.
5. Michelle Bolsonaro entra em campo – e sela o apoio popular
A cereja do bolo veio durante o Capital Moto Week. Michelle Bolsonaro, com seu carisma intacto junto ao eleitorado conservador e motociclista, cravou em alto e bom som: “Celina a nossa governadora”. A frase, aparentemente simples, tem peso político gigantesco. Relembra, reafirma e reaquece a memória afetiva do eleitor bolsonarista, que almeja a primeira mulher bolsonarista governadora.
O gesto de Michelle sela algo que muitos ignoram: Celina tem trânsito livre em diversas frentes. É respeitada institucionalmente, tem penetração popular e agora, com esse endosso explícito, entra definitivamente no radar da direita que tinha alguma dúvida do apoio.
Se a política é feita de narrativa, Celina Leão tem hoje o enredo mais crível, coerente e palatável ao eleitorado do Distrito Federal. Seu nome, livre de desgastes profundos, aliado a um campo opositor fragmentado e a um cenário nacional desfavorável ao governo federal, tende a consolidá-la como nome natural para 2026.
Se as pesquisas já mostram uma liderança de Celina, é muto provável que poderemos ver a Leoa abrindo uma vantagem ainda maior… A próxima rodada de pesquisas pode surpreender – mas para quem lê os bastidores, será apenas a confirmação do óbvio.
Por Hamilton Silva
Economista, jornalista e editor do Portal DFMobilidade
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