Na segunda-feira, 2 de junho de 2025, professores da rede pública de ensino do Distrito Federal (DF) deram início a uma greve por tempo indeterminado, que resultou na interrupção total das atividades em 255 das 713 unidades de ensino do GDF. A medida ocorre após assembleia realizada em 27 de maio, quando a categoria aprovou a paralisação em resposta a impasses nas negociações salariais e estruturais com o governo local. Apesar de liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) que considerou o movimento abusivo, fixou multa diária de R$ 1 milhão ao Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) e autorizou o desconto de ponto dos grevistas, o sindicato afirma que a mobilização seguirá até que as reivindicações sejam atendidas .
De acordo com o Sinpro-DF, a pauta de reivindicações inclui a reestruturação do plano de carreira, que prevê reajuste de 19,8%, nomeação de todos os aprovados no último concurso do magistério (cujo prazo para posse venceu em 27 de fevereiro) e a regularização das contribuições previdenciárias de aproximadamente 17 mil professores temporários. A categoria alega que diversos profissionais estão impedidos de acessar direitos básicos, como licenças médicas superiores a 15 dias, devido a falhas no repasse previdenciário efetuado pelo próprio GDF .
No dia 29 de maio, a desembargadora Lucimeire Maria da Silva, relatora do processo, deferiu liminar requerendo a suspensão imediata da greve e autorizando o corte de ponto de todos os servidores que aderirem ao movimento. A decisão foi fundamentada no entendimento de que a paralisação se daria de forma abusiva e afetaria indevidamente o direito à educação básica dos estudantes do DF. Além disso, a magistrada estabeleceu multa diária de R$ 1 milhão em caso de descumprimento das ordens judiciais pelo Sinpro-DF .
Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que cumpriria rigorosamente a determinação judicial. Conforme o comunicado, os cortes nos pontos de frequência serão aplicados a partir de terça-feira, 3 de junho, abrangendo os dias de ausência aos quais aderiram ao movimento grevista. A pasta enfatizou que o valor da multa diária ao Sinpro-DF já está em vigor e que eventual descumprimento poderá ensejar sanções mais duras .
O impacto da paralisação foi imediato e perceptível em escolas como o Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb), na Asa Sul, e o Centro Educacional 02 do Cruzeiro. No Cemeb, a adesão foi praticamente total, e muitos estudantes encontraram salas vazias ao chegar para as aulas. No Centro Educacional 02 do Cruzeiro, apenas seis dos 32 professores atuaram, e menos de 10% dos cerca de 560 alunos compareceram às atividades. A greve resultou ainda em funcionamento parcial em aproximadamente 458 unidades, com média de 15% a 20% dos profissionais em atividade, conforme balanço da Secretaria de Educação .
Estudantes manifestaram apreensão diante do cenário de incertezas. João Victor, 16 anos, relatou que, morador do Gama, precisou acordar às 4h30 para chegar ao Cemeb e teme prejuízos na preparação para as provas devido às reposições de aulas aos sábados. “Só nos resta esperar pelos próximos capítulos”, afirmou. Davi, 15 anos, recém-transferido da rede privada para o Centro Educacional 02 do Cruzeiro, lamentou a coincidência do primeiro dia na escola com a greve: “É difícil, vou ficar praticamente sem aula e sem conhecer meus novos colegas” .
Os pais de estudantes também sofreram reflexos da paralisação. Daniel de Sousa, 51 anos, vigilante, levou a filha, Mariana, de 17 anos, ao Colégio Cívico-Militar (CED 7) em Ceilândia para confirmar se haveria aula, já que não receberam comunicado oficial. “Não recebemos comunicado oficial, soubemos só pelo noticiário”, reclamou. No Cruzeiro, o autônomo Élder Araújo, 59 anos, acompanhou o filho e defendeu a pauta dos professores: “Eles precisam ser mais valorizados e reconhecidos como formadores de caráter. O governo não valoriza a educação como deveria”. Por outro lado, Daisy Evangelista, 38 anos, optou por manter a rotina, mesmo ciente dos riscos de prejuízo. “Fica ruim para nós, como pais, mas acho que cada um tem que correr atrás do que acha melhor”, comentou ao deixar o próprio filho em Ceilândia .
Enquanto a greve se desenrola, entidades sindicais de diversos segmentos se mobilizam em apoio aos professores. A CUT-DF (Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal) organizou um ato de solidariedade para a terça-feira, 3 de junho, no auditório do Sinpro-DF, no Setor de Indústrias Gráficas. No comunicado, a CUT-DF repudia a “criminalização” do direito de greve promovida pelo GDF e defende que a mobilização dos educadores seja respeitada, apontando que a liminar que estipula multa diária de R$ 1 milhão e autoriza o corte de ponto constitui medida autoritária e antissindical .
Do lado do Sinpro-DF, o diretor Cleber Soares reforçou que não há possibilidade de encerramento da greve sem que a categoria decida em assembleia. Segundo ele, “quem começa e encerra a greve é a categoria. Por mais que a Justiça e o governo concedam liminares e estabeleçam multas, não há como o Sinpro encerrar. Só a categoria” . Em paralelo, a confederação nacional dos educadores (CNTE) publicou nota de apoio, afirmando que a postura do Executivo distrital contraria convenções da Organização Internacional do Trabalho e apelando para que o GDF retome as negociações de forma transparente e de boa-fé .
Apesar de eventuais cortes salariais e multas, o movimento grevista avança sob o argumento de que a educação pública do DF está em situação delicada. O Sinpro-DF aponta falta de investimentos estruturais, déficit de servidores efetivos e atrasos na nomeação de aprovados em concursos. Além disso, sustenta que a manutenção de escolas sem condições adequadas de funcionamento prejudica diretamente o aprendizado dos estudantes. Por sua vez, a Secretaria de Educação assegura que o governo do Distrito Federal mantém canais abertos para dialogar, mas condiciona qualquer avanço ao cumprimento de normas legais e à suspensão imediata da greve, conforme determinação judicial .
Com a próxima assembleia do Sinpro-DF agendada para quinta-feira, 5 de junho, a categoria deve avaliar os reflexos dos cortes de ponto e discutir novas estratégias de mobilização. Até lá, as 713 unidades do DF permanecem sob forte tensão, divididas entre a defesa dos direitos dos educadores e a garantia do direito ao aprendizado dos alunos. O desenrolar desse conflito definirá não só a pauta salarial dos professores, mas também os rumos da política educacional no Distrito Federal.
Sobre o autor e o portal DFMobilidade
Hamilton Silva é jornalista e economista, editor-chefe do portal DFMobilidade (www.dfmobilidade.com.br) e membro do Rotary Club de Brasília. Formado em Economia pela Universidade Católica de Brasília, com pós-graduação em Gestão Financeira, Silva atua há 27 anos no jornalismo político e de mobilidade urbana.
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