‘Fiscal do sofá’ e campeã de confusão: Paula Belmonte coleciona investigação por caixa 2
Enquanto tenta se projetar politicamente no DF, a deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania) acumula controvérsias que fariam inveja a qualquer manual de “como azedar a própria biografia em poucos atos”. Do inquérito por suposto caixa 2 à tentativa de candidatura ao GDF anulada, passando por pedido formal de expulsão do próprio partido, o currículo que ela não posta nas redes é mais eloquente que qualquer discurso.
Investigação por suposto caixa 2 O Supremo Tribunal Federal determinou, em 2021, a apuração sobre a criação de empresa para justificar R$ 2 milhões em caixa 2 ligados ao casal Paula e Felipe Belmonte. A investigação nasceu de quebras de sigilo e de um áudio em que se cogita montar uma “empresa de eventos” para dar lastro às despesas — tudo sob crivo da Polícia Federal. O caso segue como “suposto” porque, até aqui, não houve condenação. Mas que é feio, é.
Pedido de expulsão no Cidadania Em dezembro de 2023, integrantes das executivas nacional e distrital do Cidadania protocolaram pedido de expulsão de Paula Belmonte. A acusação: alinhamento a pautas bolsonaristas, participação em ato contra a indicação de Flávio Dino ao STF e confronto com a linha do partido — o documento teve, entre os signatários, o ex-senador Cristovam Buarque. A novela expôs o isolamento político da distrital dentro da própria legenda.
Candidatura ao GDF barrada e volta para a “zona de conforto” Em 2022, Belmonte desafiou a direção da federação PSDB-Cidadania e se autoproclamou candidata ao Governo do DF. A ação foi considerada nula, e o TSE negou liminar que tentava reverter a decisão que manteve Izalci Lucas como cabeça de chapa. Resultado: a “terceira via” ficou sem via — e Paula recuou para disputar (e vencer) vaga de distrital. Suas contas de campanha foram aprovadas.
“Teste do sofá”: quando a procuradora da Mulher vira piromaníaca de reputações Agora, o episódio mais recente — e constrangedor. Em 2 de setembro de 2025, servidoras e ex-servidoras da CLDF protocolaram pedido de cassação do mandato de Belmonte após ela afirmar à TV Globo que “era exigência passar pelo teste do sofá para se manter no gabinete” do deputado Daniel Donizet. As autoras alegam que a fala lança suspeita generalizada sobre servidoras da Casa. A Mesa Diretora já recebeu a representação, e a própria deputada disse que apenas reproduziu uma “expressão machista” contida em denúncia. Difícil conciliar o cargo de Procuradora da Mulher com esse tipo de retórica.
O “lado fiscalizador” que ela exibe Para equilibrar o roteiro, Paula também aciona órgãos de controle. Sua representação levou o MPDFT a instaurar inquérito sobre o edital da concessão da Rodoviária do Plano Piloto; o TCDF igualmente cobrou explicações. Até aqui, ponto para a fiscalização — que, convenhamos, é obrigação e não favor.
A cruzada contra Donizet e a moção que virou escudo Belmonte foi uma das vozes mais estridentes por medidas contra o deputado Daniel Donizet, alvo de denúncias de assédio. A ofensiva rendeu-lhe moção de solidariedade aprovada na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados. Ironia fina: no mesmo terreno da pauta de gênero, veio o tropeço do “teste do sofá”.
Denúncia de assédio moral na Educação: A parlamentar também levou ao plenário da CLDF denúncia de assédio moral na Secretaria de Educação do DF, cobrando proteção a servidores. O gesto ecoa seu discurso de “defesa da dignidade”. Faltou só não generalizar e atingir a dignidade das próprias servidoras da CLDF dias atrás. Essa poderá lhe custar o mandato.
E a ambição ao Buriti? Entre idas e vindas partidárias, a deputada flerta com a ideia de disputar o Palácio do Buriti em 2026. Conversas existem; viabilidade, por ora, é outra conversa. Depois de investigação por caixa 2, pedido de expulsão e candidatura barrada, o eleitor pode muito bem perguntar: a prioridade é Brasília — ou o projeto pessoal?
Conclusão Paula Belmonte gosta do palco e do holofote. Mas, quando a luz acende forte demais, aparecem as anotações no rodapé: inquérito por suposto caixa 2, pedido de expulsão no partido, aventura eleitoral frustrada e o vexame do “teste do sofá”. Quer ser lembrada como fiscalizadora? Que tal começar fiscalizando a si mesma — e as próprias palavras.
Por: Hamilton Silva – Editor-chefe do DFMobilidade, jornalista, economista e diretor da Associação Brasileira dos Portais de Notícias (ABBP)