Na CPMI do INSS, Leila escolhe a blindagem partidária — e os aposentados ficam em segundo plano

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A senadora Leila Barros (PDT-DF) atravessou a semana sob holofotes pelos motivos errados. Durante o depoimento do ex-ministro Carlos Lupi à CPMI do INSS, Leila adotou uma postura defensiva em relação ao correligionário e presidente nacional do PDT — atitude que soou, no mínimo, desconectada da dimensão do escândalo que sangrou aposentados e pensionistas. A parlamentar tratou a comissão como “circo” enquanto exaltava a “clareza” e a “tranquilidade” de Lupi, em contraste com a gravidade das denúncias que pesam sobre a gestão do ex-ministro.

O contraste ficou ainda mais evidente na cronologia: dias antes, em 1º de setembro, Leila protagonizou um bate-boca no plenário com a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), episódio amplamente repercutido, no mesmo momento em que a CPMI aprovava — de forma unânime — o encaminhamento de 21 pedidos de prisão preventiva ao STF. A senadora votou a favor desses pedidos; ainda assim, sua intervenção no depoimento de Lupi transmitiu a imagem de blindagem partidária. (Humor rápido, mas adequado ao tema: no vôlei, “bloqueio” é técnica; na política, quando usado para proteger aliado, vira erro não forçado.)

Há, aqui, um problema de fundo: conflito de percepção. O PDT inicialmente hesitou em compor a CPMI, mas terminou por indicar a própria Leila para a comissão — gesto que reforça a leitura de conflito de interesses, já que o partido está no epicentro da crise e Leila preside a sigla no DF. A opção política parece ter cobrado seu preço na narrativa pública: a senadora, em vez de liderar a cobrança por respostas, foi percebida como voz de defesa do dirigente partidário.

Fato é que Lupi, perante a CPMI, negou omissão e disse não ter sabido da dimensão das fraudes à época, argumento oficialmente registrado pela TV Senado e por veículos de imprensa. O ponto crítico — e onde Leila escorrega — está menos no mérito jurídico das falas do ex-ministro e mais na simbologia política: ao minimizar o tom de cobrança de colegas, ela pareceu relativizar a dor de quem viu descontos ilegais corroer benefícios conquistados após décadas de trabalho. Em tempos de descrença com a política, isso pesa.

Controvérsias no trajeto de Leila como senadora

  1. Nomeações do círculo esportivo no gabinete. Em 2019, reportagens destacaram a presença de ex-colegas do vôlei em postos de confiança, com questionamentos sobre critérios técnicos. Em 2021, a então chefe de gabinete Ricarda Lima — ex-companheira de seleção — foi alvo de operação da Polícia Civil do DF por supostas irregularidades em convênios (fato relativo a períodos anteriores ao mandato de Leila, mas politicamente danoso).
  2. Disputa judicial com partido anterior. Em 2021, o PSB acionou a Justiça para cobrar R$ 102,5 mil referentes à contribuição estatutária de mandatários, expondo ruídos na relação da senadora com a legenda que a elegeu. Em 2022, ela se filiou ao PDT, movimento lido à época como cálculo eleitoral.

O mínimo que se espera, diante de um golpe bilionário no contracheque dos mais vulneráveis, é rigor intransigente — não loas à “tranquilidade” de quem precisa explicar por que a porta ficou aberta. O recado é simples: proteger aliado pode render manchete; proteger aposentado rende mandato.

Por: Hamilton Silva – jornalista, editor-chefe do portal DFMobilidade, economista (UCB), vice-presidente do Rotary Club de Brasília e diretor da ABBP.

 

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