‘Jeitinho elétrico’: fraude interestadual expõe vício cultural, enquanto a isenção do GDF aponta para o futuro

Brasil registra crescimento constante nas vendas de veículos eletrificados. (foto: Volvo/Dilvulgação).
Brasil registra crescimento constante nas vendas de veículos eletrificados. (foto: Volvo/Dilvulgação).

O “jeitinho brasileiro” resolveu pegar carona no avanço da mobilidade limpa. O Distrito Federal é hoje a única unidade da federação que isenta totalmente o IPVA de veículos híbridos e elétricos- Mérito para Ibaneis o único governador que implementou a medida que sinaliza modernidade tributária e incentivo real à transição energética. A virtude, porém, tem sido usada por alguns para burlar a lei: governos de Goiás e do DF identificaram proprietários que registraram carros no DF usando endereços falsos para escapar do imposto em seus estados de residência.

A investigação conjunta da Secretaria de Economia de Goiás, da Polícia Civil goiana e das gerências de Inteligência Fiscal e de IPVA aponta cerca de 700 proprietários notificados por registros irregulares. Parte dos veículos foi comprada em Goiás e transferida para o DF; outros foram adquiridos e registrados na capital e, em seguida, levados ao estado vizinho. O prejuízo estimado com as fraudes já beira R$ 10 milhões e, sem combate, poderia alcançar R$ 100 milhões até 2027.

Há duas histórias aqui. A primeira é velha conhecida: a cultura do “se colar, colou”, que corrói arrecadação, distorce concorrência e penaliza quem cumpre a regra. A segunda é nova — e boa: o GDF oferece um ambiente amigo da inovação, com política tributária que estimula tecnologias menos poluentes e reduz custo de propriedade, especialmente para frotas, aplicativos e serviços urbanos. Em outras palavras, Brasília sinaliza para onde o país deveria ir.

O foco do poder público, portanto, deve ser claro: punir o artifício, não a política. Fraude é fraude — e requer integração de bancos de dados, cruzamento automático de endereço, residência fiscal e emplacamento, além de operações regulares de fiscalização interestadual. Ao mesmo tempo, a experiência do DF pode servir de referência para uma harmonização federativa que evite “turismo de placa” e preserve o incentivo ambiental.

Se o “jeitinho” tenta driblar o futuro, a resposta institucional precisa ser simples e reta: segurança jurídica, cooperação entre estados e manutenção de incentivos que façam sentido econômico e ambiental. O DF fez sua parte ao sinalizar que carro elétrico e híbrido é política pública, não modismo. Cabe aos demais entes federativos modernizarem regras — e aos espertalhões, finalmente, tirarem o pé do atalho.

Chame para o debate: você já viu casos de “turismo de placa”? Comente nas nossas redes.

Por: Hamilton Silva — editor-chefe do DFMobilidade, jornalista e economista. Vice-presidente do Rotary Club de Brasília e diretor da ABBP.

 

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