O governador Ibaneis Rocha (MDB) reenviou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta (3/9), um ofício que cobra o envio ao Congresso da recomposição salarial das forças de segurança do DF. No documento, Ibaneis reitera o pedido já formalizado em fevereiro e afirma que há lastro no Fundo Constitucional do DF (FCDF) para bancar os percentuais originalmente propostos pelo GDF. Enquanto o Planalto mede 18%, a rua mede confiança.
Pelo plano do governo local, o reajuste varia por cargo e pode chegar a 44% sobre a remuneração, com isonomia em relação à Polícia Federal — ponto central da reivindicação das categorias. O GDF sustenta que a recomposição cabe no orçamento do FCDF, sem aporte extra da União. Já o governo federal colocou à mesa 18% em duas parcelas (2025 e 2026), proposta considerada insuficiente pelos policiais.
No ofício de 17 de fevereiro, anexado ao protocolo da Presidência, Ibaneis detalhou base legal, calendário (duas parcelas: setembro/2025 e maio/2026) e impacto estimado: R$ 673,06 milhões (2025), R$ 1,706 bilhão (2026) e R$ 467,70 milhões (2027). É a linguagem que Brasília entende: números, leis e fonte de custeio (FCDF).
A narrativa do governo Lula é a de que, somando 2023 a 2026, as categorias terão correção “acima de 44%”. O dado, porém, dilui o debate de agora — que trata especificamente da paridade e do desenho 2025/2026 — e não responde à exigência de isonomia com a PF. Ibaneis, por sua vez, mantém a pressão política e técnica para que a proposta original siga ao Congresso.
O movimento tem lastro político em casa. O presidente da CLDF, Wellington Luiz (MDB), apelou inclusive à bancada do PT na Câmara Legislativa para destravar o acordo junto ao Planalto. Em paralelo, sindicatos cobraram reunião presencial entre o governador e o presidente — audiência que não saiu no início do ano.
O contraste também aparece no histórico recente: no quadro civil distrital, o GDF concluiu o ciclo de 18% linear para os servidores locais (em três parcelas), sinalizando prioridade para recomposição de perdas quando a decisão depende só do caixa do DF. Já no caso das forças de segurança — bancadas pelo FCDF, orçamento federal — a caneta final é de Brasília (Planalto e Congresso).
Em síntese: o governo do DF age, protocola, apresenta conta e pressiona; o governo federal empurra com a barriga um percentual que não enfrenta a questão de fundo (paridade). O relógio político corre e a segurança pública — que tem apresentado resultados e exige motivação — não combina com improviso orçamentário. Política se faz com discurso; salário, com lei e dotação.