O deputado distrital Daniel de Castro (PP) protocolou representação na Presidência da Câmara dos Deputados pedindo a abertura de processo disciplinar contra o líder do PT, Lindbergh Farias. O motivo é o discurso em plenário no qual o petista, ao anunciar um projeto para tipificar “alta traição à pátria” com pena de 20 a 40 anos, citou que, em “alguns estados norte-americanos, como Utah”, a traição é punida com fuzilamento.
Para Daniel de Castro, a declaração afronta “princípios basilares do Estado Democrático de Direito” e fere o decoro parlamentar. Na peça, o distrital pede que a Presidência encaminhe o caso ao Conselho de Ética para avaliar a instauração de processo disciplinar.
Lindbergh, por sua vez, afirma ser alvo de “fake news”. Diz que apenas comparou legislações estrangeiras e que “não está defendendo fuzilamento de ninguém”.
Contexto: a reação ocorre dias após o próprio Lindbergh defender rotular como “traidor nacional” articuladores da extrema direita que, segundo ele, atuariam contra interesses do Brasil nas negociações com os Estados Unidos sobre tarifas. O endurecimento do discurso criou novo atrito político em Brasília.
Análise crítica: recorrer à imagem de “fuzilamento” em pleno plenário não é figura de retórica inocente. Num momento de tensão institucional, a escolha das palavras importa — e muito. Ao acionar a Câmara, Daniel de Castro ocupa o terreno da defesa do decoro e da liturgia democrática, buscando fixar um parâmetro: pauta dura não precisa de metáforas letais. Já Lindbergh, líder do governo na Câmara, poderia ter sustentado seu projeto de “alta traição” sem flertar com referências que soam incompatíveis com a Constituição e com a missão de um parlamentar.
Cabe à Presidência da Câmara decidir se remete a representação ao Conselho de Ética. Se houver encaminhamento, os integrantes do colegiado avaliarão eventual abertura de processo disciplinar.
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Hamilton Silva — jornalista, editor-chefe do DFMobilidade, economista (UCB), vice-presidente do Rotary Club de Brasília e diretor da ABBP.