O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, voltou a reconhecer a força do conservadorismo dentro e fora do Brasil, e frisou a necessidade de a esquerda promover uma “renovação a fim de lidarem com essa nova conjuntura”. Para o petista, que foi condenado por corrupção, a esquerda não tem, sozinha, a maioria necessária para fazer “reformas estruturais”.
A análise de Dirceu foi publicada em coluna da Folha de S.Paulo neste domingo (21), com o título Desafios da Próxima Década.
” É impossível falar em desafios da esquerda e do Brasil sem levar em consideração que vivemos um momento de hegemonia internacional da extrema-direita e do conservadorismo” disse.
Ele apontou ainda que a direita atualmente “governa a Itália, a Holanda e a Suécia; é uma alternativa real na França; consolida-se na Polônia e na Hungria; pode retomar o governo dos EUA; é ameaça na Alemanha” e “acaba de vencer na Argentina”.
Na sequência, Dirceu afirmou que, após as gestões Temer e Bolsonaro, a esquerda retornou ao governo em “condições de minoria na Câmara e no Senado”. Ele questiona como o Partido dos Trabalhadores (PT) vai governar e retomar o fio histórico sem “unidade nacional ou sem uma aliança entre a esquerda e setores empresariais”.
“A esquerda, sozinha, não tem maioria para fazer reformas estruturais. Também não consegue, sozinha, construir um projeto nacional de desenvolvimento que resolva os pontos de estrangulamento do crescimento, os juros e a concentração de renda, realimentados pela estrutura tributária baseada no consumo e na produção” frisou.
Dirceu sustenta que a capacidade da esquerda de “construir um bloco social” e “mobilizar a sociedade” tem sido limitada pela “hegemonia da direita conservadora”, e por isso, o PT e os demais partidos de esquerda precisariam “mudar a correlação de forças no Congresso e na disputa eleitoral, política e cultural”.
“Sem isso, será impossível. A extrema-direita se apropriou dos avanços tecnológicos e das guerras culturais e nos impuseram derrotas políticas e eleitorais graças à aliança com os interesses econômicos das elites financeiras e agrárias e com os neopentecostais. Para enfrentar os desafios da próxima década, o PT e as esquerdas necessitam de renovação a fim de lidarem com essa nova conjuntura, condição para serem instrumentos da mobilização que garanta base parlamentar e apoio social para as reformas necessárias” salientou.
*PN