O tarifaço dos Estados Unidos, em vigor desde 6 de agosto, reduziu as vendas de carne bovina do Brasil para o mercado americano, mas acelerou embarques a outros destinos — com impacto direto na inflação de alimentos nos EUA. A sobretaxa adicional de 50% incide sobre a carne enviada acima da cota anual isenta; somada ao imposto de 26,4% já aplicado fora da quota, a alíquota efetiva chega a 76,4% e inviabiliza negócios com importadores americanos no curto prazo.
Mesmo com a barreira, a indústria brasileira reagiu ampliando mercados. Até 25 de agosto, a média diária de receitas com carne bovina fresca, refrigerada ou congelada cresceu 70,1% ante agosto de 2024, puxando a participação do produto na pauta exportadora e indicando um provável recorde mensal. Em volume, a média diária alcançou cerca de 13,3 mil toneladas, acima das 9,9 mil toneladas do ano passado.
A mudança no fluxo foi imediata: em agosto, o México ultrapassou os EUA e se tornou o segundo maior destino da carne brasileira, enquanto a China manteve a liderança. O reposicionamento de compras por parte de México, Austrália e outros fornecedores dos americanos tende a reconfigurar o comércio global do setor nos próximos meses.
Nos Estados Unidos, a oferta mais apertada se somou ao menor rebanho em décadas e empurrou os preços: a carne moída atingiu novo patamar em julho, reforçando a pressão no bolso do consumidor e nas redes de fast food, que passaram a buscar alternativas de abastecimento.
No Brasil, o governo federal tem privilegiado a via diplomática e medidas internas. Anunciou compras públicas para amparar produtores afetados por tarifas — focadas em itens como açaí, água de coco e castanhas —, mas deixou de fora café e carne bovina, sob o argumento de que esses setores encontram demanda em outros mercados. A orientação oficial é “negociar antes de retaliar”, enquanto a Camex avalia instrumentos de reciprocidade previstos em lei.
Avaliação A curto prazo, a diversificação de destinos e a demanda asiática amorteceram o choque para os frigoríficos brasileiros. A médio prazo, entretanto, a recomposição do rebanho global e o desfecho das tratativas bilaterais definirão margens, preços e competitividade. Para o consumidor americano, o alívio só virá com mais oferta — doméstica ou importada —, algo que não acontece de um dia para o outro.
Siga o DFMobilidade para conteúdos diários de política e economia do DF e do Brasil: Instagram: https://instagram.com/dfmobilidade | Facebook: https://facebook.com/dfmobilidade |