Sobrinho de Dilma atribui a Lula acordo de paz que foi costurado pelos EUA — e o Brasil sequer participou
O vereador Pedro Rousseff (PT), sobrinho da ex-presidente Dilma Rousseff, publicou nas redes que “quem acabou com a guerra em Gaza” foi Luiz Inácio Lula da Silva — e não Donald Trump. A declaração, sonora e conveniente, colide com os fatos apurados por veículos internacionais e com os registros oficiais do encontro no Egito nesta segunda (13). O cessar-fogo e a troca de reféns foram resultado de articulação mediada pelos Estados Unidos, com participação de Egito, Turquia e Catar. O Brasil não integrou a mesa de mediação nem enviou representante à cúpula de Sharm el-Sheikh.
A narrativa do parlamentar ganhou tração em perfis alinhados ao governo, mas não resiste ao básico: líderes estrangeiros e agências confirmaram que Washington conduziu a engenharia do acordo e que o palco egípcio serviu para chancelar a fase seguinte do plano — monitoramento da trégua e reconstrução. Nenhuma ata, discurso oficial ou comunicado do evento credita a Brasília o protagonismo celebrado nas timelines.
Enquanto isso, a realidade em Gaza e Israel fala mais alto do que slogans: a libertação dos últimos reféns vivos por parte do Hamas, a saída de milhares de detentos palestinos e o tráfego inicial de ajuda humanitária ocorreram sob o guarda-chuva do entendimento costurado por Washington, com papel ativo do Cairo, Doha e Ancara. Foi esse arranjo, e não bravata doméstica, que baixou a temperatura no conflito — ao menos por ora.
Não se trata de disputa de torcida, mas de precisão histórica. Amplificar versões fantasiosas para inflar capital político interno só confunde o público e reduz a credibilidade do debate. O governo brasileiro celebrou o acordo — como quase todo o mundo civilizado —, porém não liderou a mediação. A realidade é teimosa; o feed, nem sempre.
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