A gestão dos Correios no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou, entre janeiro e setembro de 2024, o maior prejuízo da história da estatal para o período: R$ 2 bilhões. Mantido esse ritmo, o déficit pode superar o registrado em 2015, de R$ 2,1 bilhões, durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
Sob a presidência do advogado Fabiano Silva dos Santos, de 47 anos, indicado ao cargo pelo grupo Prerrogativas – coletivo de advogados alinhados ao presidente Lula e crítico à operação Lava Jato –, a situação financeira da empresa se deteriorou. Fabiano, que mantém relações próximas com o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu, é apelidado de “churrasqueiro de Lula” e segue próximo ao grupo, que organiza eventos com a presença do presidente e da primeira-dama Janja.
Em outubro, diante do agravamento das contas, os Correios decretaram um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões para 2024. A decisão, comunicada aos gestores no dia 11 daquele mês, foi documentada sob sigilo, mas obtida pela imprensa. Além disso, a estatal determinou a suspensão de contratações de pessoal terceirizado por 120 dias, a renegociação de contratos com redução mínima de 10% nos valores e a proibição de prorrogações contratuais sem economia comprovada.
Mesmo com essas medidas, a receita prevista para 2024 foi revista de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões. Ainda assim, projeta-se um prejuízo de pelo menos R$ 1,7 bilhão. A empresa justificou as ações afirmando que busca evitar o risco de insolvência, alertando que a situação poderia exigir intervenção do Tesouro Nacional para cobrir o rombo.
Entre as decisões recentes da gestão Fabiano, está a desistência de recorrer em uma ação trabalhista de R$ 600 milhões, registrada contabilmente como prejuízo em 2022, o que levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a investigar o caso. Outra dívida trabalhista, de aproximadamente R$ 400 milhões, foi quitada sem contestação. Adicionalmente, os Correios assumiram um compromisso de transferir R$ 7,6 bilhões ao fundo de pensão Postalis para cobrir parte do deficit previdenciário.
A estatal atribuiu sua crise financeira a dois fatores principais: a “herança contábil” da gestão anterior, de 2019 a 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e a chamada “taxa das blusinhas”, defendida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), que teria reduzido as importações, impactando as receitas da empresa com o despacho de encomendas. Apesar disso, a gestão Bolsonaro registrou lucro em três dos quatro anos de governo.
Mesmo enfrentando prejuízos, os Correios anunciaram um concurso público para a contratação de 3.511 funcionários, com salários que variam de R$ 2.429,26 a R$ 6.872,48. A empresa garantiu que as provas do certame não serão canceladas e que, até o momento, não houve rompimento de contratos nem demissões.