Brasília — Uma discreta, mas significativa mudança ocorreu no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF), nos primeiros meses deste ano. Três magistrados, que até então atuavam como auxiliares diretos do ministro, deixaram seus postos entre janeiro e março, retornando às suas funções no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
A movimentação ganhou destaque após a revelação de que um dos ex-integrantes da equipe de Moraes, o juiz instrutor Airton Vieira, esteve envolvido em episódio de compartilhamento indevido de informações, conforme apurado pela imprensa nacional. Vieira, considerado braço direito de Moraes desde 2018, figura como personagem central em diálogos vazados em que, juntamente com Eduardo Tagliaferro — ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —, teria fornecido dados sensíveis fora dos trâmites legais, em clara afronta ao devido processo.
Além de Vieira, também se desligaram os juízes auxiliares Rogério Marrone de Castro Sampaio — no gabinete desde 2018 — e André Solomon Tudisco, que havia assumido o posto em junho do ano passado. Ambos estavam cedidos ao STF pelo TJSP.
Dentre os quatro cargos auxiliares no gabinete de Moraes, apenas o juiz Rafael Tamai Rocha permanece. A normativa interna da Corte autoriza a permanência de juízes auxiliares por até dois anos, sendo necessária nova autorização para estender o vínculo ou efetuar nova cessão após o desligamento.
Destaca-se que Moraes é o único ministro do STF com prerrogativa para contar com quatro juízes auxiliares — três auxiliares e um instrutor —, enquanto os demais ministros estão limitados a três assessores do Judiciário, conforme resolução interna.
A debandada coincide com o crescente escrutínio sobre decisões tomadas pelo ministro e seu entorno, em meio ao acirramento do debate institucional no país e à percepção, por parte de diversos setores da sociedade, de que o STF extrapola suas funções constitucionais.
Esse cenário reforça as tensões no ambiente jurídico e político nacional, especialmente diante das recentes investigações que cercam o ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja defesa e aliados denunciam uma perseguição implacável por parte do “sistema”. Tais episódios lançam luz sobre os bastidores de poder na mais alta Corte do país — e os custos, muitas vezes ocultos, de sua atuação.