Jatinho clandestino de R$ 813 milhões zomba da fiscalização e viabiliza fuga de chefes do maior roubo da história do sistema financeiro
A Polícia Federal (PF) apura os contornos do que está sendo classificado como o maior desvio digital da história financeira brasileira — R$ 813 milhões subtraídos por meio de fraude ao sistema de pagamento instantâneo, o PIX.
De acordo com investigação publicada pelo portal O Bastidor, o episódio inclui uma fuga aérea, ocorrida em 5 de julho, cinco dias após o golpe: um jatinho registrado no nome da empresa Bravo Fly (prefixo PP-BMG) teria transportado sete integrantes da quadrilha de Goiânia para Buenos Aires (via Belo Horizonte e Curitiba).
A investigação aponta que a Bravo Fly não tinha autorização para atuar como táxi-aéreo junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o que levanta a hipótese de serviço irregular.
Entre os envolvidos estariam nomes como Ítalo Jordi dos Santos Pireneus (conhecido como Breu), sua esposa Thaís Penalva Lima, Marcus Vinícius Machado, Flávia Silva Nogueira de Jesus, Daniel Mizael dos Santos, Vitor dos Dussantos Ciliria e Ana Clara Rocha Figueiredo.
O esquema
A atuação da quadrilha teria se iniciado entre abril e maio de 2024, quando prepararam o ataque à empresa C&M Software – que presta serviços de tecnologia para instituições de pagamentos – culminando com invasões que permitiram desvio de recursos de contas internas de bancos e fintechs, que operavam o PIX.
Apesar do vultoso montante, o Banco Central do Brasil afirmou que nenhum correntista foi diretamente afetado, pois o episódio atingiu contas-reserva das instituições e não as contas pessoais dos clientes.
Pistas da fuga aérea
Conforme O Bastidor, o voo fretado partiu de Belo Horizonte, com escala em Goiânia para embarque da quadrilha, depois Curitiba e seguimento à Argentina. Todos os passageiros teriam passado pela alfândega da Polícia Federal na saída.
O uso de aeronave sem autorização para táxi-aéreo levanta suspeitas de “voo clandestino” ou “terceirizado” a partir de modelo de “troca de horas de voo” comum no setor de aviação privada — esquema em que um dono empresta a aeronave, e os custos ficam sob outra empresa, para disfarçar o registro real.
Impactos e próximo passos
- A PF cumpriu 42 mandados de busca e apreensão e 26 prisões (19 preventivas, 7 temporárias) em nove estados mais o Distrito Federal.
- Foram bloqueados bens e valores de até R$ 640 milhões.
- Há pedido de extradição de oito suspeitos detidos no exterior (seis na Espanha, dois na Argentina).
- Ainda falta apurar quem financiou a fuga aérea, quem pagou o jato e como o desviante conseguiu deixar o país apesar do enorme volume envolvido. O voo aponta para ação bem articulada e internacionalizada.
Este episódio representa risco sistêmico ao sistema financeiro brasileiro: não se trata de correntistas sendo estourados, mas de contas-reserva de bancos/fintechs sendo invadidas e valores massivos sendo drenados. É um alerta para vulnerabilidades pouco exploradas. Traz ainda lições para regulação, governança de tecnologia, aviação de pequeno porte e combate à lavagem internacional.




