Em convenção realizada nesta quinta-feira (5) em Brasília, a cúpula do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) aprovou, por ampla maioria, a incorporação do Podemos à sua estrutura partidária, abrindo caminho para a formação de uma nova legenda a partir das duas siglas. A reunião da 17ª Convenção Nacional do PSDB contou com a participação de dirigentes nacionais e parlamentares, resultando em 201 votos favoráveis, apenas dois contrários e duas abstenções à proposta de união, que oficializa um movimento de recomposição do centro político no Brasil .
Deliberação e modalidade de união
Inicialmente, as lideranças tucanas haviam debatido a possibilidade de uma fusão, que implicaria a criação de um nome completamente novo para a legenda. Contudo, optou-se pela incorporação do Podemos ao PSDB, modalidade que mantém a preponderância da estrutura tucana enquanto absorve formalmente a bancada e quadro diretivo do Podemos . A proposta aprovada concede à Executiva Nacional do PSDB poderes para negociar ajustes no estatuto e programa partidário, bem como definir o eventual nome provisório – amplamente referido como “PSDB+Podemos” até que uma denominação definitiva seja aprovada pelos filiados .
Durante a discussão interna, houve resistência de alguns segmentos do PSDB, que exigiam garantias sobre o comando futuro da legenda unificada. O Podemos, que atualmente possui bancada numérica maior, reivindica a presidência do novo partido para a deputada federal Renata Abreu (SP), enquanto os tucanos defendem um rodízio de cargos entre as lideranças de ambas as siglas, com cada grupo assumindo a presidência por seis meses até as eleições municipais de 2028 . O impasse sobre a presidência deverá ser discutido nas próximas semanas, à medida que a Executiva elabora o projeto de estatuto a ser submetido ao Ministério Público Eleitoral e, posteriormente, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .
Contexto de crise e necessidade de recomposição
O movimento de união com o Podemos reflete o momento de fragilidade enfrentado pelo PSDB nos últimos ciclos eleitorais. Quarto partido mais antigo em atividade no país, a legenda viu sua participação política encolher de forma significativa: elegeu apenas 13 deputados federais em 2022 – contra 99 eleitos em 1998 – e não lançou candidato próprio à Presidência naquela disputa . Além disso, perdeu governadores importantes, como Eduardo Leite (RS) e Raquel Lyra (PE), que migraram para o PSD, reduzindo ainda mais sua capilaridade nos estados. Em 2024, o PSDB registrou sua pior performance municipal da história, sem eleger nenhum prefeito em capitais como São Paulo e Brasília, fato que precipitou o debate sobre a sua continuidade isolada como agremiação política .
O Podemos, por sua vez, consolidou-se como uma agremiação política de perfil centrista, sob a liderança da deputada Renata Abreu. Apesar de menor histórico eleitoral que o PSDB, o partido havia atraído destaque nacional após romper com o ex-juiz Sergio Moro em 2022 e manter presença significativa no Congresso, o que lhe confere atualmente bancada mais numerosa que a tucana. A incorporação reduz riscos de que o PSDB fique sujeito à cláusula de desempenho, medida que exige mínimo de representatividade eleitoral para evitar o cancelamento de recursos do Fundo Partidário e tempo de rádio e TV .
Proposta de novo programa partidário e horizonte eleitoral
Com o aval da convenção nacional, o PSDB encaminhará nos próximos dias ao TSE o pedido de registro da nova legenda, estimando obter parecer definitivo entre setembro e outubro de 2025 . Enquanto isso, as comissões responsáveis pela redação do estatuto e do programa político já iniciaram encontros reservados para delinear a identidade ideológica do partido unificado, que pretende se posicionar como alternativa ao “lulopetismo” e ao bolsonarismo, reforçando o discurso de centro democrático e liberalismo social .
Entre os temas em debate nos textos em elaboração, estão a preservação dos programas sociais inaugurados pelo PSDB nos anos 1990, ao lado da incorporação de pautas de renovação e combate à corrupção defendidas pelo Podemos. Há consenso, tanto por tucanos quanto por lideranças abertistas, de que o reforço estrutural visa, sobretudo, colocar o novo partido como polo de candidatura competitiva à disputa presidencial de 2026. Embora não exista consenso sobre o nome definitivo, o nome “PSDB+Podemos” deverá ser mantido até o fim do pleito, quando pesquisas internas e consulta aos filiados deverão nortear a escolha final .
Repercussão e desafios internos
Logo após o anúncio, parlamentares do PSDB e do Podemos enalteceram a decisão como um passo necessário para a recomposição do campo de centro. Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB, afirmou que “a incorporação do Podemos fortalece o projeto de renovação partidária e assegura espaço relevante ao centro democrático” . Já Renata Abreu destacou a oportunidade de “unir propósitos em favor da estabilidade institucional e desenvolvimento sustentável”, salientando que o Podemos contribuirá com energia jovem e renovação de quadros para o novo partido .
Contudo, a execução prática desse acordo ainda enfrenta desafios significativos. A definição de comando, a repartição de cargos executivos e o desenho de um estatuto que contemple as diferenças históricas entre tucanos e abertistas serão testados nas próximas semanas. A Executiva Nacional do PSDB precisará também negociar eventuais federações com outras legendas, como Solidariedade, para ampliar ainda mais sua base de apoio, além de enfrentar resistências locais em estados onde o PSDB já vinha atuando em composições regionais.
Implicações para o cenário político do Distrito Federal
No Distrito Federal, onde o PSDB mantém bancada expressiva na Câmara Legislativa e no Senado, a incorporação do Podemos pode alterar o equilíbrio interno das forças de centro. Deputados distritais tucanos como Paula Belmonte e Julio Cesar, bem como o senador Izalci Lucas, deverão integrar as discussões sobre a futura orientação programática, sobretudo no que tange às pautas de mobilidade urbana e infraestrutura, áreas de interesse-chave para o eleitorado brasiliense . A expectativa é que o novo partido reforce sua atuação em Brasília com vistas às eleições de 2026, apostando na apresentação de candidaturas competitivas para o governo do Distrito Federal e as oito vagas ao Legislativa local.
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