O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, adotou um tom populista e carregado de abstrações ao discursar nesta quinta-feira (27) em evento alusivo aos 73 anos da sede oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). Suas palavras, aparentemente genéricas, vieram no contexto das recentes decisões da Justiça americana que colocaram em xeque sua atuação no Brasil.
A tentativa de nacionalismo como escudo
Em sua fala, Moraes destacou o compromisso com a democracia, os direitos humanos e a Constituição brasileira. No entanto, a ênfase na “independência do Poder Judiciário” e na “soberania do Brasil” soou como uma tentativa de resposta indireta às críticas internacionais e à decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que recentemente rejeitou pedidos de colaboração do STF em investigações de brasileiros no exterior.
O ministro mencionou a superação do Brasil como colônia e o esforço para consolidar uma “república independente e democrática”, recorrendo a um discurso carregado de simbolismo, mas esvaziado de respostas concretas sobre sua conduta e o atual embate jurídico internacional.
Decisões internacionais e a pressão sobre Moraes
A posição de Moraes se fragilizou após a Justiça dos EUA questionar a legalidade de suas decisões que afetam cidadãos brasileiros no exterior. Recentemente, casos envolvendo perseguições políticas e censura a opositores do governo brasileiro geraram preocupações entre juristas e defensores dos direitos humanos fora do país. O desconforto internacional fez crescer a pressão sobre o ministro, levando-o a buscar um discurso de reafirmação nacionalista.
Ao citar a ministra Cármen Lúcia e o escritor Guimarães Rosa, Moraes buscou reforçar uma narrativa de resistência e coragem, tentando desviar o foco das críticas e criar um ambiente favorável dentro do próprio Judiciário e da opinião pública brasileira.
Fuga do mérito e o desgaste no STF
A fala de Moraes evitou qualquer menção direta às decisões da Justiça americana ou aos questionamentos que pairam sobre sua atuação. O tom vago e recheado de abstrações reforça a percepção de que o ministro, antes visto como inabalável, agora enfrenta dificuldades para justificar suas posturas dentro e fora do Brasil.
O uso de termos como “cidadania”, “igualdade entre as nações” e “defesa da democracia” sem uma abordagem concreta dos fatos levanta questionamentos sobre a real intenção do discurso. Para muitos analistas, trata-se de uma tentativa de manter sua imagem pública intacta diante do desgaste crescente.
Conflitos com as big techs e a pressão internacional
Além das decisões judiciais americanas, Moraes enfrenta desafios significativos em sua relação com gigantes da tecnologia dos Estados Unidos. Recentemente, o ministro ordenou a suspensão da plataforma de vídeos Rumble em território brasileiro, após a empresa se recusar a cumprir determinações judiciais relacionadas ao bloqueio de contas acusadas de disseminar desinformação e discurso de ódio . Em resposta, a Rumble, juntamente com o grupo de mídia de Donald Trump, processou Moraes nos Estados Unidos, acusando-o de censura ilegal e violação da liberdade de expressão .
Outro embate notório ocorreu com a plataforma X (antigo Twitter), de propriedade de Elon Musk. Moraes impôs multas significativas e chegou a ordenar a suspensão temporária da plataforma no Brasil, devido ao não cumprimento de ordens judiciais para bloquear contas que propagavam desinformação . Essas ações intensificaram o debate sobre a liberdade de expressão e o papel das big techs na disseminação de conteúdo, colocando Moraes no centro de uma controvérsia internacional.