Levantamento inédito da Fipe e da Veloe revela preferências, contrastes regionais e fatores que influenciam a escolha das cores
São Paulo, abril de 2025 — Apesar de ser mundialmente reconhecido pela alegria de suas festas, pela profusão de cores de sua geografia e de suas manifestações culturais, quando o tema é escolha pela cor do carro, o brasileiro adota um “jeitinho” bem mais sóbrio. É o que revela levantamento inédito sobre as cores da frota nacional, do Panorama Veloe de Indicadores de Mobilidade, realizado pela Fipe em parceria com a Veloe, a partir de dados do Senatran.
De acordo com estudo, baseado em dados referentes a janeiro de 2025, 67,8% da frota nacional de veículos estava registrada com cores mais neutras ou “monocromáticas”: branca (21,7%), preta (18,9%), prata (16,5%) e cinza (10,6%). Já os tons mais vibrantes ou “coloridos” totalizavam 32,0% da frota, e incluíam, especialmente, o vermelho (15,5%) e o azul (7,6%), seguidos por verde (3,6%), bege (1,9%), amarela (1,3%) e marrom (0,7%). Com participações inferiores a 1%, era possível identificar cores raras nas ruas, como o laranja (0,4%), dourada (0,3%), roxa (0,3%), rosa (0,1%) e fantasia (0,1%). Vale ressaltar que a cor fantasia refere-se a qualquer cor que não seja considerada padrão pelo DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito). Isso inclui cores customizadas, gradientes, fosco, metálico, entre outros. A cor “grená” não teve participação significativa nos dados analisados.
Entre os diferentes fatores – econômicos, sociais e culturais – que podem explicar a preferência dos consumidores no mercado de veículos, podem ser mencionados:
- Valor de revendas e desvalorização dos veículos no mercado de usados: dada a importância do mercado de usados, muitas pessoas optam por cores neutras acreditando que isso poderá facilitar a venda do veículo no futuro e reduzir perdas financeiras, já que a prevalência dessas cores é um indício de que elas possuem maior aceitação entre os brasileiros;
- Influência cultural e do clima sobre a cor dos veículos: em áreas e localidades com forte identidade local e clima quente, há maior abertura a cores vivas; por outro lado, a cultura de celebrar a diversidade e a alegria também pesa na escolha de tonalidades mais vibrantes – seja na arquitetura, na culinária, na moda ou cor dos veículos;
- Disponibilidade limitada de modelos com cores vibrantes pelas montadoras: as montadoras tendem a produzir e distribuir mais carros em cores neutras, principalmente em regiões onde a demanda é historicamente alta para esses tons, reforçando um ciclo que favorece o branco, preto, prata e cinza; (v) preferências de estilo: algumas cores, como o preto, são vistas como sofisticadas; já o branco é apreciado pela sensação de limpeza e por ser, muitas vezes, mais confortável em regiões de alta temperatura.
- Outro ponto que afeta a escolha por uma cor de veículo é a existência de legislações e normas institucionais que determinam ou restringem a tonalidade de determinados veículos. A título exemplificativo, m diversas cidades brasileiras, os táxis têm cor padronizada: no Rio de Janeiro, por exemplo, são tradicionalmente amarelos com faixa azul; em São Paulo, predominam modelos brancos; enquanto Belo Horizonte exige um padrão branco com faixas horizontais coloridas. Da mesma forma, alguns tipos de veículos oficiais precisam obrigatoriamente ser pretos ou brancos, o que acaba uniformizando a frota em determinadas localidades, influenciando a distribuição das cores nas estatísticas da Senatran.
Influência das diferenças culturas e preferências sobre a paleta da frota
Ao analisar as preferências por estado é possível perceber disparidades marcantes na adoção de tons neutros ou vibrantes. Entre os recortes geográficos maior proporção de veículos em tons neutros ou monocromáticos (branco, cinza, prata ou preto), o Distrito Federal lidera com 73,2%, seguido por Espírito Santo e São Paulo (ambos com 70,8%), Mato Grosso do Sul (70,5%) e Santa Catarina (70,4%). Já no polo oposto, destacam-se os estados onde a paleta frota é mais colorida e vibrante: Maranhão, com 39,7% de veículos com cores diferentes de branco, cinza, prata ou preto), Piauí (39,5%), Ceará (39,1%), Acre (38,3%) e Amazonas (38,1%).
O levantamento também listou os 10 municípios com as frotas mais coloridas/vibrantes e os 10 municípios com as frotas mais neutras/monocromáticas. No topo do ranking de participação de cores “vibrantes” (vermelho, azul, verde etc.) estão Graça (CE) e Cacimbas (PB), ambas com 59,2% de automóveis coloridos, seguidas por Brejo dos Santos (PB) com 57,8%, Santa Terezinha (PE) e Sucupira do Norte (MA), ambas com 57,7%, Pacujá (CE) com 57,4%, Santana do Piauí (PI) com 57,0%, Itapetim (PE) e Mãe d’Água (PB), ambas com 56,9%, e Brejinho (PE), com 56,6%. Na outra ponta, entre os municípios que mais privilegiam tonalidades mais discretas (branco, cinza, prata e preto), destacaram-se: Belo Horizonte (MG), que atinge 81,2% nessa paleta, seguido por Paraiso das Águas (MT) com 78,3%, Americana (SP) e Vitória (ES), ambas com 78,1%, Nova Independência (SP) e Sapezal (MT), ambas com 77,8%, Jaci (SP) e Bady Bassitt (SP), cada uma com 77,1%, Pirangi (SP) com 76,9% e Paulínia (SP), com 76,8%.
Interessante notar que presença mais expressiva de cores vibrantes em boa parte do Norte e Nordeste não se restringe à frota de veículos; ela reflete também elementos culturais característicos dessas regiões. Nas festas populares, na arquitetura colonial colorida e até nas vestimentas do dia a dia, percebe-se uma forte tradição de valorizar tons intensos e alegres. Esse apreço histórico pelas cores, associado a um clima mais quente e festivo, pode explicar a maior adesão a carros em tonalidades como vermelho, azul e verde. Desse modo, a escolha de veículos mais chamativos torna-se, em muitos casos, uma extensão natural da identidade cultural local, reforçando o colorido que já está presente em diversos aspectos da vida cotidiana dessas populações.
Por outro lado, a predileção por cores neutras em boa parte do Sul e Sudeste pode estar ligada a um conservadorismo estético e cultural que se traduz na escolha de tons como branco, preto, prata e cinza. Nessas regiões, a discrição e a sobriedade costumam ser valores bastante apreciados, o que se reflete na arquitetura mais “clássica”, em estilos de moda mais sóbrios e, consequentemente, na identidade visual da frota de veículos. Além disso, é possível que o fator econômico-financeiro seja mais forte nesses mercados: no mercado de seminovos, cores neutras tendem a ser vistas como investimentos mais seguros, pois facilitam a revenda, algo muito valorizado pelo público que busca conjugar praticidade e menor risco de desvalorização no mercado de usados.
Curiosidades adicionais
- Preferência pelas cores discreta ou neutras é fenômeno nacional: em nenhum estado analisado a participação de cores neutras (branca, cinza, prata ou preta) ficou abaixo de 60%, evidenciando o quanto essas tonalidades mais neutras dominam a paleta da frota no país, a despeito das diferenças regionais.
- Forte prevalência de veículos brancos no Sul e Sudeste: enquanto na média nacional a cor branca representa 21,7% da frota, em estados como Santa Catarina e Espírito Santo essa cor chega a responder por 27% da frota.
- Cor preta também é destaque: a comumente associada a elegância e status social, a participação de veículos na cor preta apresenta percentuais superiores a 20% em diversos estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, ela chega a 18,8%, enquanto no Pará atinge 23,4%.
- Pequena variação de cinza e prata: embora também sejam cores neutras, a diferença entre prata (16,5%) e cinza (10,6%) na frota nacional mostra como alguns consumidores preferem a tonalidade metálica à fosca, talvez por destacar menos a sujeira e desgastes, além de ser mais comum nas prateleiras de montadoras e concessionárias – por ex. refletindo modernidade e tecnologia;
- A cor vermelha é a mais disseminada entre as “vibrantes”, com participação média de 15,5% na frota nacional, superando outras cores nesse espectro, como azul, verde e amarelo. Em alguns estados, a participação supera 20%.
- A participação da cor azul varia bastante por região, chegando a percentuais próximos a 9% em alguns estados (como Roraima), enquanto a média nacional é de 7,6%. O resultado pode indicar que certas localidades têm maior afinidade ou oferta de veículos com essa cor em relação à média nacional
- Como já antecipado, há a influência de frotas governamentais ou empresariais: em alguns casos, como Distrito Federal, a participação de branco ou preto pode se dever à presença de grandes frotas de serviço (táxis, locadoras, frotas empresariais, órgãos públicos). Por exemplo, ambulâncias, veículos de governo ou empresas de transporte podem impactar a estatística regional.
- Cores claras x regiões com clima quente: como já antecipado, vigora um senso comum de que cores claras seriam mais adequadas para veículos em regiões quentes, pois refletiriam calor. Embora haja embasamento científico na afirmação de que cores claras, como o branco, colaboram para a refletir mais a radiação solar, reduzindo ligeiramente a absorção de calor, a diferença provavelmente não é tão significativa a ponto de eliminar a necessidade de ar-condicionado para o conforto dos motoristas. Com efeito, embora a cor do veículo possa contribuir de forma sutil para manter o interior um pouco mais fresco, fatores como a quantidade de superfícies envidraçadas, a intensidade da radiação solar, o isolamento térmico do veículo e, claro, os usos de climatização artificial continuam sendo mais decisivos para garantir o conforto térmico.
- Ademais, estados do Norte e Nordeste, contudo, mostram índices altos de branco, mas também superam a média nacional em tons vibrantes (azul, verde, vermelho), sinal de que fatores culturais são, muitas vezes, tão ou mais fortes quanto aqueles relacionados ao clima na escolha da cor do veículo.
Mais sobre o levantamento
O levantamento inédito foi conduzido pela Fipe em parceria com a Veloe, com base em dados do Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) referentes ao mês de janeiro de 2025. Foram consideradas todas as categorias de cores disponíveis no cadastro dos veículos para realizar uma comparação detalhada entre as regiões.
As conclusões ajudam a compreender melhor o perfil do motorista brasileiro e a forma como fatores econômicos, culturais e climáticos influenciam diretamente nas decisões de compra e na própria configuração do mercado automotivo. Para fabricantes, concessionárias e até profissionais de marketing, compreender essas dinâmicas ajuda na hora de planejar produção, estoque e campanhas regionais. Já para o consumidor final, a consciência dessas tendências pode influenciar na hora de adquirir um veículo, seja pela afinidade estética ou pela busca de maior liquidez no mercado automotivo.
Distribuição da frota nacional de acordo com UF e cor (janeiro/2025)
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Elaboração: Fipe e Veloe, com base em dados da Senatran (janeiro/2025).
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Ranking dos 10 municípios com frotas mais vibrante e 10 municípios com frota mais neutra (janeiro/2025)
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Elaboração: Fipe e Veloe, com base em dados da Senatran (janeiro/2025).
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Sobre a Veloe
Veloe é um hub de mobilidade e gestão de frota, que nasceu para tornar a mobilidade mais fluida e simples e a gestão de frotas leves e pesadas mais eficiente. Veloe é aceita em todas as rodovias pedagiadas e mais de 2.600 estabelecimentos comerciais no país. Foi criada por Banco do Brasil e Bradesco em 2018, como uma unidade de negócios da Alelo. Entre seus principais parceiros estão C6 Bank, Banrisul, Cartões Elo, Banestes, Banco BRB e MAPFRE. Mensalmente, divulga o Panorama Veloe de Indicadores de Mobilidade, em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), uma cesta de indicadores sobre mobilidade que força a vocação do negócio em gerar informação relevante e de qualidade para a tomada de decisões. Em 2023, lança a Veloe Go, marca que reúne serviços para pessoas jurídicas. Para ter Veloe e Veloe Go basta solicitar pelo nosso site.