A Superintendência-Geral do Cade determinou a reanálise da compra da desenvolvedora de sistemas TotalBus pela ClickBus, operação de R$ 50 milhões firmada em maio, após apontar que o grupo comprador prestou informações falsas ao órgão. A autarquia também avalia aplicar multa que pode chegar a R$ 6 milhões.
Segundo nota técnica, a ClickBus — que tem como sócio o Grupo Guanabara, de Jacob Barata Filho, conhecido como “Rei do Ônibus” — omitiu ligações com a Smart Travel, empresa de tecnologia que compete no mesmo mercado da TotalBus. O documento registra que Maria da Glória Barata Rothier, filha de Barata Filho, figura como sócia da Smart Travel, o que derruba a narrativa de ausência de sobreposição concorrencial.
Concorrentes como BlaBlaCar, Omio e Buson alertaram para risco de fechamento de mercado: sob o mesmo guarda-chuva ficariam a maior plataforma de venda online de passagens rodoviárias (ClickBus) e uma das principais fornecedoras de software de gestão para viações (TotalBus). A combinação daria ao grupo poder para favorecer aliados e estrangular rivais — um filme velho em Brasília quando autarquias federais cochilam na fiscalização e acordam só depois do estrago.
A área técnica do Cade pede que o tribunal do órgão refaça a análise da operação à luz dos novos vínculos e avalie a punição por informação enganosa. Procuradas, ClickBus e TotalBus não se manifestaram até o fechamento deste texto.
Contexto e próximos passos: se o tribunal do Cade acompanhar a recomendação, o negócio pode ser desfeito ou virar uma aprovação condicionada, com remédios concorrenciais. Até lá, o recado é cristalino: omitir vínculo societário em operação sensível é atalho para o retrovisor da Justiça — e uma aula prática de como transformar um “deal” de R$ 50 milhões em passivo reputacional.
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