Um estudo publicado em junho de 2025 na revista JAMA Network Open analisou registros bancários de mais de 66 mil pessoas e identificou, em até dez anos antes de um registro formal de perda de capacidade financeira, alterações sutis porém consistentes em padrões de gastos que podem indicar declínio cognitivo associado à demência . em paralelo, pesquisas realizadas nos estados unidos apontam que inadimplência em pagamentos de cartão de crédito pode surgir até seis anos antes do diagnóstico clínico de demência, e que scores de crédito começam a cair cerca de 2,5 anos antes .
no brasil, estima-se que cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais conviva com algum grau de demência, totalizando aproximadamente 1,8 milhão de pessoas, número que vem crescendo em razão do envelhecimento populacional . apesar disso, apenas 20% desses casos são efetivamente diagnosticados, o que reforça a necessidade de ferramentas que antecipem a detecção clínica .
método e resultados
o estudo britânico de caso-controle, liderado pela dra. anna trendl, utilizou dados anônimos de clientes de um grande banco no reino unido. compararam-se 16 742 indivíduos que registraram procuração financeira (marcador de perda de capacidade financeira) com um grupo controle de cerca de 50 000 pessoas de perfil demográfico e socioeconômico semelhante. foram avaliados 344 indicadores financeiros ao longo de dez anos, usando técnicas estatísticas robustas para controlar comparações múltiplas .
nos cinco anos anteriores ao registro de procuração, o grupo com perda de capacidade apresentou redução média de gastos em vestuário (–9,1 p.p.), viagens (–9,6 p.p.) e lazer (–7,9 p.p.), e aumento nas despesas com serviços domésticos, como energia e gás (+5,1 p.p.). além disso, houve maior frequência de solicitações de redefinição de pin, comunicação de cartões perdidos ou roubados, registros de tentativa de fraude e menor número de acessos mensais ao internet banking .
contextualização e implicações
essas alterações podem refletir prejuízos precoces nas funções executivas e na capacidade de planejamento, sintomas iniciais de condições neurodegenerativas como doença de alzheimer e demência vascular. diferentemente de biomarcadores clínicos, dados financeiros estão disponíveis em larga escala e podem ser usados para criar sistemas de alerta em instituições bancárias e serviços de saúde, protegendo financeiramente indivíduos vulneráveis.
no cenário brasileiro, a adoção de políticas que permitam o uso ético e responsável de dados bancários para monitoramento cognitivo, bem como a capacitação de familiares e cuidadores para identificar esses sinais, pode reduzir atrasos diagnósticos e oferecer intervenções em estágios mais precoces.
limitações e próximos passos
o estudo não teve diagnóstico clínico formal de demência para todos os participantes do grupo de perda de capacidade, usando procuração como proxy. faltam estudos que integrem diretamente dados clínicos e financeiros em populações diversas, inclusive em países em desenvolvimento. futuros trabalhos deverão avaliar a aplicabilidade desses marcadores em larga escala e desenvolver protocolos de segurança e privacidade.
chamada para a audiência
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