A audiência pública conjunta das Comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, destinada a debater as contas públicas e as políticas fiscais do governo federal, foi suspensa prematuramente após um tumulto protagonizado pelos deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG), aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi dispensado pelo presidente da sessão, deputado Rogério Correia (PT-MG), diante de troca de ofensas e da saída abrupta dos parlamentares da base bolsonarista .
Convocada para as 10h, a audiência reuniu deputados de oposição e da base governista para esclarecimentos sobre renúncias fiscais, medidas de ajuste e execução orçamentária, incluindo a PEC da Transição e alterações em alíquotas de ICMS para combustíveis e energia elétrica. A programação oficial do evento consta no portal da Câmara dos Deputados, que registra a presença de Haddad para prestar esclarecimentos a convite das comissões permanentes de Finanças e de Controle Financeiro .
O episódio teve início quando o deputado Nikolas Ferreira, ao lançar mão de pedido de questão de ordem, questionou o rito de apresentação de dados e, instantes depois, deixou a sala de comissões citando discordâncias procedimentais. Assessores de ambos os lados acompanharam a discussão ao vivo por redes sociais, ampliando o clima de tensão. Ao notar a ausência dos parlamentares, Haddad qualificou o ato como “molecagem” e lamentou o que chamou de “fuga de debate” por parte de bolsonaristas .
Em seu pronunciamento, o ministro criticou o fato de “desde 2018 o presidente Bolsonaro fugir de todos os debates” e justificou que não conseguia “debater com bolsonaristas” por considerar tais condutas desrespeitosas ao parlamento. Haddad afirmou ter comparecido “com o espírito público, com dados oficiais, PECs e leis complementares aprovadas por esta Casa” e destacou estar “perdendo um minuto para esse desabafo”, dada a “molecagem” praticada pelos deputados, ressaltando a importância de diálogo técnico em comissões legislativas .
Pouco depois, o deputado Carlos Jordy retornou à audiência, motivado por críticas de que Haddad teria sido “extremamente desrespeitoso”. Jordy chamou o ministro de “moleque” e criticou a gestão econômica do governo Lula, afirmando que Haddad “fez com que o País tivesse o maior déficit fiscal da história, de R$ 230 bilhões, logo após o superávit herdado de Bolsonaro, que enfrentou pandemia e entregou resultado primário positivo”. Com ampla presença nas redes sociais, Jordy reforçou sua fala com referências à popularidade virtual, ainda que contestadas pela cúpula governista .
Em seguida, Nikolas Ferreira retornou à sala com nova questão de ordem, solicitando a retirada dos termos “molecagem” e “moleque” das notas taquigráficas — registros oficiais das sessões legislativas — e citou dispositivos do regimento interno para fundamentar o pedido. O presidente da comissão, Rogério Correia, acolheu a solicitação e determinou a exclusão das expressões do registro, mas a celeuma persistiu em meio a gritos de “fujão” dirigidos a Haddad pelos parlamentares contrários à continuidade do debate .
O confronto reflete a intensa polarização política em que se encontra o Congresso Nacional, especialmente em matérias de natureza fiscal e orçamentária, tradicionalmente pautas técnicas que dependem de ambiente colaborativo para deliberação efetiva. A PEC da Transição, implementada em 2023 para estabelecer um teto de despesas e disciplinar renúncias fiscais de cerca de R$ 110 bilhões anuais, ganhou relevo no debate, ao lado da venda de ativos públicos — como Eletrobras — e das mudanças na alíquota modal do ICMS, cujo deslocamento financeiro afetou governos estaduais. Em nota posterior, Haddad destacou que “calote em precatório e receita de ICMS” foram fatores determinantes para a deterioração do resultado primário de 2022, reafirmando a divergência de narrativa entre base e oposição .
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