Em um story publicado no Instagram da primeira-dama Michelle Bolsonaro, a visão “de cima” sobrevoou as margens do Rio Juruá e expôs um único ponto de travessia — sem ponte ou estrutura digna — que permanece como o único acesso entre a comunidade ribeirinha de Cruzeiro do Sul (AC) e a BR-364.
Na manhã de sexta-feira (11), Michelle Bolsonaro desembarcou no aeroporto de Cruzeiro do Sul, vinda de Brasília em voo particular, acompanhada da presidente nacional do PL Mulher, Charlene Lima; da primeira-dama de Rio Branco, Kelen Nunes; e de Thais Bittar, esposa do senador Márcio Bittar . Ainda na sexta, participou da cerimônia de filiação da vice-prefeita Delcimar Leite ao Partido Liberal (PL), no Teatro dos Navas, onde defendeu maior participação feminina na política e cobrou investimentos em infraestrutura para comunidades isoladas . No sábado (12), seguiu para Rio Branco para comandar evento no Ginásio do Sesc, às 8h30, com lideranças do partido e parlamentares locais.
Segundo o Censo SUAS 2014, cerca de 30% das comunidades tradicionais — incluindo ribeirinhos — vivem em localidades sem acesso rodoviário formal, somando aproximadamente 900 mil pessoas dependentes exclusivamente do transporte fluvial para deslocamentos básicos. Em Macapá (AP), por exemplo, 726 moradores de Carapanatuba utilizam diariamente pequenas embarcações para alcançar serviços de saúde e mercados, enquanto em Coari (AM) 205 comunidades, com cerca de 15,4 mil habitantes, permanecem isoladas ao longo de rios sem qualquer rota terrestre de integração.
Em contrapartida, o governo federal declarou investimento de R$ 532,5 milhões em 2024 na melhoria da malha viária do Amazonas — incluindo rodovias e ferrovias — porém nenhuma rubrica foi destinada à construção ou modernização de travessias fluviais em pontos críticos, obrigando ribeirinhos a enfrentar balsas precárias e longas esperas.
Relatório de fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU), no Acórdão 505/2024-TCU, identificou graves deficiências em Terminais Hidroviários de Pequeno Porte (IP4) na Região Amazônica, com contratos inativos e falta de revitalização das estruturas que servem a comunidades isoladas .
A estiagem recorde entre 2023 e 2024 agravou ainda mais o isolamento: a queda nos níveis dos rios impôs riscos adicionais e expôs a ausência de um plano logístico sólido para enfrentar ciclos de cheia e seca, afetando diretamente 862 mil pessoas no Amazonas .
Enquanto avenidas federais recebem asfalto novo e grandes obras ostentam cifras milionárias, pontos de travessia ribeirinha seguem abandonados — um retrato cruel da desigualdade de acesso que invisibiliza e humilha populações tradicionais. É imperativo que o governo federal inclua no Plano Nacional de Logística 2035 projetos de pontes e terminais fluviais, destine orçamento específico e estabeleça cronograma firme de execução, revertendo o descaso que permanece acima das águas.
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Sobre o autor
Hamilton Silva é jornalista e economista, formado pela Universidade Católica de Brasília. Editor-chefe do portal DFMobilidade, atua há mais de 25 anos em reportagens sobre mobilidade urbana e políticas públicas.