Mercosul se reúne em Foz do Iguaçu sob impasse histórico com a União Europeia

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Mercosul reúne líderes em Foz do Iguaçu sob impasse histórico com a União Europeia, frustrando expectativa de um acordo de livre comércio que poderia criar uma das maiores zonas econômicas globais e alterar profundamente o comércio entre Europa e América do Sul.

A Cúpula do Mercosul realizada em 20 de dezembro em Foz do Iguaçu (PR) contou com a presença dos principais chefes de Estado do bloco — incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, mas ficou marcada não por um avanço comercial, e sim por um impasse político-diplomático com a União Europeia (UE).

Acordo adiado: frustração e resistência europeia
O grande destaque negativo do encontro foi a não assinatura do tão aguardado acordo comercial entre Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e a União Europeia, cuja assinatura era esperada para a cúpula brasileira. O evento chegou a ser remarcado no calendário justamente para permitir a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a formalização do tratado — mas o plano naufragou diante de resistências internas no bloco europeu.

A principal razão do impasse foi o adiamento da decisão no Conselho Europeu, impulsionado por países como França e Itália, sob pressão de setores agrícolas receosos com a competição de produtos sul-americanos em seus mercados domésticos. Os agricultores europeus, especialmente franceses e italianos, organizaram protestos e pressionaram suas lideranças a adiar o acordo, argumentando temores sobre padrões sanitários, ambientais e potenciais prejuízos à produção local.

Esse cobertor curto político na UE não ofereceu a maioria necessária para concluir a ratificação e assinatura do pacto, empurrando a expectativa de assinatura para janeiro de 2026, quando os europeus esperam contornar as resistências domésticas.

O que está em jogo: uma negociação de décadas
O acordo Mercosul–UE está em negociação há mais de 25 anos e, se concluído, exigiria a eliminação de grande parte das tarifas entre os dois blocos, abrindo mercados para produtos agrícolas sul-americanos na Europa e para bens industriais e serviços europeus na América do Sul. Trata-se de um pacto que pode beneficiar exportadores de automóveis, máquinas, produtos agrícolas e muitos outros setores, além de integrar mercados que somam cerca de 780 milhões de consumidores e um quarto do PIB mundial.

No discurso em Foz do Iguaçu, o presidente Lula criticou a indecisão europeia e pediu “coragem política” aos parceiros do outro lado do Atlântico, destacando que o Mercosul permanecerá comprometido com a negociação e aberto a novas parcerias comerciais globais.

Além do impasse: ações paralelas na cúpula
Com a assinatura governamental adiada, o foco da presidência brasileira do Mercosul se voltou para fortalecer a integração regional e encontros com outros parceiros, incluindo negociações com países como Emirados Árabes Unidos, Canadá e Índia, numa tentativa de distribuir o risco econômico e ampliar mercados alternativos.

Na abertura da cúpula, o Brasil também inaugurou uma nova ponte sobre o Rio Paraná, ligando Brasil e Paraguai, um símbolo físico da integração regional, com investimento de quase R$ 2 bilhões financiado pela Itaipu Binacional e pelo governo paranaense.

Contexto geopolítico e futuro da integração
O adiamento da assinatura do pacto expõe o dilema geopolítico de Mercosul e da UE: de um lado, um bloco sul-americano que busca expandir influência e reduzir barreiras comerciais; de outro, um bloco europeu dividido entre interesses agrícolas domésticos e uma agenda externa de livre comércio. O resultado é uma cúpula marcada por frustração diplomática, com expectativas de desfecho apenas no início de 2026.

As negociações continuam, mas o episódio em Foz do Iguaçu serve como alerta de que interesses nacionais podem sobrepor objetivos multilaterais, exigindo mais do que compromissos políticos em cúpulas para que acordos estruturantes sejam efetivamente concluídos.

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