Lula libera R$ 200 milhões para membros da CPMI do INSS no mês da instalação, e o “timing” levanta suspeitas

Tropa lulista na CPMI: deputado Ricardo Maia (MDB-BA); líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP); deputado Paulo Pimenta (PT-RS). (Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado)
Tropa lulista na CPMI: deputado Ricardo Maia (MDB-BA); líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP); deputado Paulo Pimenta (PT-RS). (Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado)

O governo federal liberou mais de R$ 200 milhões em emendas parlamentares para deputados e senadores titulares da CPMI do INSS justamente no mês em que a comissão foi instalada. Segundo levantamento do colunista Cláudio Humberto, entre 1º e 22 de agosto foram R$ 113,7 milhões efetivamente pagos e outros R$ 90,8 milhões empenhados — o bastante para qualquer leitor desconfiar que a coincidência tem CPF.

O detalhe que agrava a percepção pública é a distribuição política desse montante: a “tropa” do PDT — partido que comandou a Previdência até recentemente — aparece no topo, com R$ 18,1 milhões quitados para seus integrantes na CPMI. Já a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), proponente da investigação, não teve pagamentos nem empenhos em agosto, ainda conforme o mesmo levantamento. Emendas são legais e fazem parte do jogo; o que está na berlinda é o uso do calendário de liberação como instrumento de pressão e acomodação de interesses.

Contexto: a CPMI foi instalada em 20 de agosto, e elegeu o senador Carlos Viana (Podemos-MG) presidente e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) relator. O colegiado tem 180 dias para apurar fraudes bilionárias em descontos indevidos sobre benefícios de aposentados e pensionistas. No primeiro plano de trabalho, foram aprovadas convocações de ex-presidentes do INSS e convites a ex-ministros. Ou seja: a pauta é séria e de alto impacto social — exatamente por isso o país não pode conviver com qualquer sombra de “enxágue” político via emendas.

O governo sustenta, em documentos públicos, que 2025 é um ano de contenção: houve corte de 43% no universo de emendas, e o cronograma de execução passou por ajustes após decisões do STF e negociações orçamentárias. Nada disso, contudo, explica por que teria “chovido” dinheiro justamente para titulares da CPMI no mês inaugural de seus trabalhos. Sem transparência por parlamentar, data e rubrica — e sem uma explicação convincente para o sincronismo — a percepção de uso político das emendas só cresce.


A CPMI do INSS trata de um rombo estimado em bilhões contra aposentados. Se a comissão nasceu para recompor confiança, não pode caminhar com a suspeita de que a liberação de verbas a seus membros funcionou como “cinto de segurança” para o governo. Emendas não são pecado; mas, quando o calendário coincide milimetricamente com uma investigação sensível, o ônus da prova política fica com o Planalto.

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